domingo, 26 de agosto de 2012
Judite, 13
1. | Anoiteceu. Os oficiais apressaram-se em voltar aos seus aposentos. Vagao fechou as portas do quarto e foi-se. | |
2. | Estavam todos embriagados pelo vinho. | |
3. | Judite ficou só no seu quarto, | |
4. | enquanto Holofernes repousava em seu leito, bêbedo a cair. | |
5. | Judite havia dito à sua serva que ficasse fora, diante do quarto, vigiando. | |
6. | De pé ao lado do leito, movendo em silêncio os lábios, ela orou com lágrimas a Deus, dizendo: | |
7. | Senhor, Deus de Israel, dai-me força. Olhai agora o que vão fazer minhas mãos, a fim de que, segundo a vossa promessa, levanteis a vossa cidade de Jerusalém, e eu realize o que acreditei ser possível graças a vós. | |
8. | Dizendo isto, aproximou-se da coluna que estava à cabeceira do leito e tomou a espada que ali estava pendurada; | |
9. | desembainhou-a e, tomando os cabelos de Holofernes, disse: Senhor, dai-me força neste momento! | |
10. | Feriu-o duas vezes na nuca e decepou-lhe a cabeça. Desprendeu em seguida o cortinado das colunas, e rolou por terra o corpo mutilado. | |
11. | Feito isto, saiu e deu à sua serva a cabeça de Holofernes para que a metesse no saco. | |
12. | Depois saíram ambas, como de costume, como se fossem para a oração. Atravessaram o acampamento, contornaram o vale e chegaram às portas da cidade. | |
13. | De longe, Judite gritou aos guardas dos muros: Abri as portas, porque Deus está conosco; ele manifestou o seu poder em favor de Israel. | |
14. | Ouvindo estas palavras, os homens chamaram os anciãos da cidade, | |
15. | e toda a população correu para ela, desde o menor até o maior, porque não esperavam mais que ela voltasse. | |
16. | Juntaram-se todos ao redor dela com tochas acesas. Judite, subindo a um lugar mais alto, pediu que se fizesse silêncio. Todos se calaram. | |
17. | Louvai ao Senhor nosso Deus, disse-lhes ela, que não abandonou os que puseram nele a sua esperança, | |
18. | e que cumpriu pelas mãos de sua serva a sua promessa de misericórdia à casa de Israel; esta noite ele matou por minha mão o inimigo de seu povo. | |
19. | Retirando então do saco a cabeça de Holofernes, mostrou-lha dizendo: Eis a cabeça de Holofernes, marechal do exército assírio, e eis o cortinado do baldaquino onde se achava deitado, ébrio a cair, quando o Senhor, nosso Deus, o feriu pela mão de uma mulher. | |
20. | Mas juro-vos, pelo mesmo Senhor, que o seu anjo me protegeu, tanto ao partir, como ao demorar-me lá, e como ao voltar, e o Senhor não permitiu que sua serva fosse manchada: ele reconduziu-me a vós livre de toda a mancha de pecado, cheia de alegria por sua vitória, pela minha salvação e pela vossa libertação. | |
21. | Dai-lhe glória todos vós, porque é bom, porque a sua misericórdia é eterna! | |
22. | Então todos, adorando o Senhor, disseram a Judite: O Senhor te abençoou com o seu poder, porque ele por ti aniquilou os nossos inimigos. | |
23. | Ozias, príncipe do povo de Israel, acrescentou: Minha filha, tu és bendita do Senhor Deus altíssimo, mais que todas as mulheres da terra. | |
24. | Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que te guiou para cortar a cabeça de nosso maior inimigo! | |
25. | Ele deu neste dia tanta glória ao teu nome, que nunca o teu louvor cessará de ser celebrado pelos homens, que se lembrarão eternamente do poder do Senhor. Ante os sofrimentos e a angústia de teu povo, não poupaste a tua vida, mas salvaste-nos da ruína, em presença de nosso Deus. | |
26. | E todo o povo respondeu: Assim seja! Assim seja! | |
27. | Mandaram então vir Aquior, e Judite disse-lhe: O Deus de Israel, de quem testemunhaste que toma vingança dos seus inimigos, cortou esta noite por minha mão a cabeça de todos os infiéis. | |
28. | Para provar-te que assim é, eis aqui a cabeça de Holofernes que, na insolência de seu orgulho, desprezava o Deus de Israel e te ameaçava de morte, dizendo: Quando o povo de Israel for vencido, mandarei passar-te ao fio da espada. | |
29. | Vendo a cabeça de Holofernes, Aquior foi tomado de pavor e caiu com o rosto por terra, sem sentidos. | |
30. | Quando recobrou os sentidos e voltou a si, jogou-se aos pés de Judite em sinal de reverência e disse: Sê bendita de teu Deus em todas as tendas de Jacó, porque o Deus de Israel será glorificado por causa de ti entre todas as nações que ouvirem o teu nome. |
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sábado, 25 de agosto de 2012
BEATA ALEXANDRINA DE BALASAR
A Alexandrina nasceu em 30 de Março de 1904 em Balasar. É uma pequena camponesa cheia de vida, divertida, afectuosa. Aos 14 anos lança-se de uma janela a 4 m de altura para preservar a sua pureza, ameaçada por alguns homens q haviam entrado em casa.
Cinco anos mais tarde, as lesões derivadas da queda provocaram-lhe uma paralisia total que a manteve de cama durante mais de 30 anos, até ao fim da sua vida.
Ofereceu-se como vítima a Cristo pela conversão dos pecadores e pela paz do mundo. Durante 4 anos (1938-42), reviveu todas as sextas-feiras, durante 3 horas, a paixão de Cristo. De 27 de Março de 1942 até à sua morte (isto é, durante 13 anos e 7 meses), não ingeriu nenhuma outra bebida nem alimento mais do q a Eucaristia. Este fato inexplicável foi comprovado cientificamente por diversos médicos, às vezes até de maneira humilhante para a Alexandrina. Foi uma grandíssima mística. Em união contínua com Jesus nos Tabernáculos do mundo todo, recebeu êxtases e revelações. Pediu e obteve do Papa Pio XII a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria (31 -10- 1942). O Senhor quis q o seu segundo director espiritual fosse um salesiano, P. Humberto Pasquale, que recolheu o seu preciso diário. Aceitou, então, tornar-se Cooperadora. Dizia; "Sinto uma grande união com os Salesianos e com os Cooperadores do mundo inteiro. Fixo muitas vezes o meu atestado de pertença e ofereço os meus sofrimentos, unida a todos eles, pela salvação da juventude! Amo a Congregação. Amo-a muito, e jamais a esquecerei nem na terra nem no céu". Milhares de pessoas iam até ao seu leito para receber o conforto das suas palavras. Em 13 de Outubro de 1955, exclamou: «Sou feliz, porque vou para o céu». À tarde faleceu em Balasar, onde se encontra o seu sepulcro e onde acodem multidões de peregrinos. Início do Processo: 14-1-1967 - Venerável: 21 -12-1995 - Beatificada em 25-04-2004
Uma vida marcada pela Cruz – Beata Alexandrina de Balasar
"Quero sobre o meu túmulo uma Cruz e junto dela uma imagem da querida Mãe do Céu. Se for possível, quereria que uma coroa de espinhos envolvesse a cruz. A cruz será um símbolo daquela que trouxe e amei até à morte.
A estátua de Nª Senhora será para dizer a todos que foi Ela que me ajudou a subir o caminho doloroso do meu Calvário, acompa¬nhando-me e sustentando-me até ao último momento da minha existência. Confio que assim seja. Ela é Mãe e como tal não me abandonará nos últimos momentos da vida. Amo a Jesus, amo a Mãezinha, amo o sofrimento e só no Céu compre¬enderei o valor de quanto sofro!" Mais tarde foram encontradas, no meio dos papéis, duas folhinhas pequeninas, escritos por ela e unidas por uma fita branca, onde completa o seu testamento aos pecadores: "Balasar, 14 de Julho de 1948.
Para a minha campa
Pecadores, se as cinzas do meu corpo podem ser-vos úteis para vos salvar, aproxi¬mai-vos, passai sobre elas, calcai-as até que desapareçam, mas não pequeis mais, não ofendais mais o nosso Jesus! Pecadores, tantas coisas quereria dizer-vos! Não me chegaria este grande cemitério para escrevê-las todas. Convertei-vos! Não ofendais a Jesus, não queirais perdê-lo eterna-mente! Ele é tão bom! Basta de pecar! Amai-O! Amai-O!"
Foi assim que Alexandrina quis viver animada por três amores: "Jesus Sacramentado, a Mãe do Céu, os pecadores". Não só os viveu como quis que ficassem gravados na sua campa.
UM GRITO DA ALEXANDRINA - “Eu queria gravar nas pedras das ruas, das estradas, dos fontanários, nas praças, nos desgraçados casinos, nos cinemas, nas casas do pecado, em toda a parte, isto: Pecadores, convertei-vos! Vinde a Jesus! Não fomos criados para a terra, mas sim para o Céu! Não ofendais a Nosso Senhor! Ah! Se soubésseis o que é uma ofensa feita ao Seu Divino Coração! Eu vivi por vós, sofri por vós, morri por vós e por vós vou continuar o meu Céu. Foram por vós todas as minhas aspirações. Não queria cessar um só momento de aos vossos ouvidos falar do amor que Jesus nos tem e o que é a nossa ingratidão para com Ele, quando pecamos. Queria dizer muita coisa, para vos não deixar cair em pecado. Amai o Senhor! Amai o Senhor! Temei o inferno!”
MENSAGEIRA DA EUCARISTIA
“Eis o mistério da fé” exclama o sacerdote, depois da consagração. De facto, a Eucaristia é um verdadeiro mistério da fé. Só pela fé, só pela crença na palavra do Senhor:
“Isto é o Meu corpo”, podemos saber que Ele está realmente presente na hóstia consagrada. Pelo testemunho dos nossos sentidos, nunca poderíamos suspeitar da divina presença sobre o altar. Se é mistério da fé, não é menos mistério de amor. É loucura do amor divino pelas almas. Ele é um abismo de humilhação e, ao mesmo tempo, a última expressão do amor misericordioso de Jesus pelas almas. O amor tem horror à ausência, à separação. Se fosse possível, os amores puramente humanos nunca se separariam. Mas o que é impossível ao amor humano, é possível ao amor divino, que é um amor sem limitações, que é um amor omnipotente.
Promessa sensacional
A partir do dia da Anunciação, o Filho de Deus passou a viver na terra entre os homens. Apesar do mistério da Ascensão, Ele continua a viver nela, com a intuição do Santíssimo Sacramento. Que coisa maravilhosa, a luz e o calor do sol! Sem sol, não haveria dia, seria sempre noite! E assim, que escuridão e que frio sofre a terra!
No mundo espiritual, Jesus sacramentado é o coração da Igreja, é o Sol das almas que as ilumina, que as aquece, que as alimenta, que as fortalece. Sem esta celeste presença, que solidão, que vazio, que soledade! Sem este pão divino, que fome, que sede, que anemia espiritual. Jesus diz à Sua confidente: “Minha filha vítima de Jesus, vítima da humanidade, vítima da tua pátria, do teu Portugal, Minha filha, louquinha da Eucaristia, ama-Me e faz-Me amado. É por ti que Eu quero ser amado. É de ti que Eu exijo grande reparação. Repara-Me de tantos sacrilégios, de tantos crimes e iniquidades. A tua dor atingiu o auge”. Jesus disse aos judeus (Jo. 6, 54): “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia”. Esta doutrina é confirmada pela revelação feita à Sua confidente, no dia 25-2-1949: “Minha filha, Minha esposa querida, faz com que Eu seja amado, consolado e reparado na Minha Eucaristia. Diz, em Meu nome, que todos aqueles que comungarem bem, com sincera humildade, fervor e amor em seis primeiras quintas-feiras seguidas, e junto do Meu Sacrário, passarem uma hora de adoração e íntima união coMigo, lhes prometo o Céu. É para honrarem as Minhas santas chagas, honrando primeiro a do Meu sagrado ombro tão pouco lembrada. Quem isto fizer, quem às santas chagas juntar as dores da Minha bendita Mãe e, em nome delas, Nos pedires graças, quer espirituais quer materiais, Eu lhas prometo, a não ser que sejam de prejuizo à sua alma. No momento da morte trarei coMigo Minha Mãe Santíssima para as defender”. “Ó meu Deus, como sois bom! Como é infinita e sem limites a Vossa misericórdia! Permite que todos comunguem bem, com as devidas disposições, para se tornarem dignos das Vossas divinas promessas. Alcançai-me, para mim, a mesma graça”. A Comunhão, o seu único alimento O alimento material é uma necessidade vital do organismo humano. Quem não come, acaba por morrer. A Alexandrina foi uma excepção à regra. Ela foi um milagre vivo da sagrada Eucaristia, que lhe alimentou também o corpo durante os últimos treze anos e meio da sua vida. O Pão Vivo descido do Céu foi pão, tanto da alma como do corpo. Foi completa a sua abstinência de comida e de bebida e a anúria, desde o ano de 1942, até à morte, sucedida a 13/10/1955. E não se imagine que tenha havido fraude, pois esteve durante 40 dias, desde 10 de Junho a 20 de Julho, de 1942, internada no Refúgio de Paralisia Infantil, na Foz do Douro, sob rigorosa vigilância de médicos e enfermeiras – ateia, pelo menos, uma. Fala o médico assistente, Dr. Azevedo: “Por vezes, via-a com dores quase insuportáveis; e, para que elas diminuíssem, obrigava-a pedir a Deus ou à Virgem Santíssima a diminuição dessas dores, por algum tempo, e, coisa curiosa, era sempre ouvida, embora muitas vezes, ela fizesse esses pedidos, contrariada, pois dizia-me q era preciso haver quem sofresse, em reparação dos pecados do mundo. Sorrindo, respondia-lhe que dissesse a Jesus que o corpo dela não era bigorna de ferreiro. E assim ia decorrendo o tempo, num sofrimento quase contínuo. Numa das primeiras semanas de Março de 1944, estava ela com uma gastralgia muito dolorosa, e eu dei-lhe, em 2 ou 3 colheres de água, umas gotas de Bellafoline, e, minutos depois, as náuseas e dores eram horríveis. Não estranhei o caso; estava habituado a estas anormalidades da acção dos medicamentos, nesta doente”. Dias depois, no êxtase de 17-3-1944, ela perguntou: “Porque me faz mal o remédio, Jesus? Dai, dai a conhecer aquilo que quereis. “Faço isto, Minha filha, para que os homens saibam que só Eu basto. É para que o teu médico seja uma testemunha bem forte, diante de todos aqueles, que duvidam do Meu poder e da Minha vida nas almas. Não quero que tomes nada. O teu alimento sou Eu. A tua medicina sou Eu”. Fico calada, meu Jesus, mas Vós bem sabeis o que eu quero perguntar-Vos. Já que sabeis, então digo: Ainda hei-de comer antes de morrer, ou não, Jesus? “Não, não, filhinha; nunca mais, nunca mais. Eu chego para te saciar, não achas?” Para que me dais a saudade da comida? “Para teu martírio; tiro desse martírio grande, grande proveito. Mato as ânsias que tenho das almas, mato a fome que tenho de a todos possuir em Meu divino Coração”. Estou conforme, Jesus, com tudo o que Vós quiserdes. Não quereis q eu faça nada para meu alívio? “Tudo, tudo que possa ser Minha filha, e o que o teu médico entender, exteriormente. Eu quero, Eu exijo os teus alívios. Não quero que tomes nada, para provar o Meu poder, para que vejam os cegos. Cegos, que todo o custo, não querem ver. Mas ai daqueles que não virem; tremendas contas têm para Me darem. Mistério, mistério divino. Luz, luz, divina, que brilha em ti, para que a faças brilhar no mundo. Todos podem ver, todos podem compreender, a todos dou as graças necessárias”. E, no êxtase de 31-3-1944, ouviu-se o seguinte: “Faz hoje dois anos que me tirastes, meu Jesus, a crucificação: Foi em sexta-feira das Dores. Que tormento para mim!” “São anos litúrgicos, Meu anjo, mas não te tirei a crucifixão; não vês que ela continuou? Deixaste de ter a paixão, tirei-te a alimentação. Não é para ti grande tormento? Não deixei de te crucificar. Acendi novo farol”. No êxtase de 13-10-1944: “... tirei-te a alimentação, para que dês à humanidade só aquilo que é divino; tirei-te para dar luz aos cegos que não querem ver”. Palavras da Alexandrina, no dia 23-12-1948: “Quando penso em Jesus, na Eucaristia, fico deveras confundida com tanta loucura de amor. O que digo? É mais que loucura de amor; não sei como Jesus, o nosso bom Jesus, nos pode amar tanto. O que vistes em nós, meu Jesus, que tanto Vos encantasse? O que foi que Vos obrigou a fazer-Vos prisioneiro de tantos séculos? Oh! que amor! Ó Jesus, dai-me um coração que Vos ame e saiba corresponder às doçuras e loucuras do Vosso infinito amor. Quero viver presa por Vós, como Vós o viveis por mim”. No êxtase de 20-10-1944: “Diz, Minha amada, ao mundo que se converta; diz ao mundo que se reconcilie coMigo. Dize, Minha amada, diz ao mundo que ouça a voz de Jesus ecoar na mais alta montanha, no meio da mais tremenda tempestade. Haja emenda de vida, faça-se oração, faça-se penitência. Ou fogo, sangue e condenação, ou reconciliação, fogo de amor divino, paz e perdão. Alerta, Portugal, é Jesus Quem te avisa pelos lábios da Sua vítima. Alerta, mundo inteiro; escuta a voz de Jesus, levanta-te, emenda-te, reconcilia-te. Escuta o Pai, que te chama, te avisa, que quer salvar-te. Coragem, coragem: salva, salva os Filhos Meus”. Ó Jesus, acredito em Vós; porque sois Jesus, não posso duvidar da Vossa palavra divina. Duvido de mim, aterra-me a minha miséria. Só Vós sabeis o que eu sou”. “Coragem, confiança, Meu anjo; não pecas, não Me ofendes, estou contigo no meio dos teus mais tremendos combates. Como está o mundo! Que vejam os que te estudam e cuidam da Minha causa divina, a reparação que Eu exijo dos crimes da Humanidade. Só uma virgem inocente, só a maior das Minha crucificadas podia ter tal reparação. Vistam-se os nus, vistam-se os enfermos, haja modéstia, acabe-se a vaidade. Penitência, penitência; oração, muita oração. É Jesus que o pede; é Jesus que quer salvar o mundo”. Em 1928, a Alexandrina, já com três anos de entrevação, escreve: “Um dia, em que estava sozinha, lembrando-me de que Jesus estava no Sacrário, disse assim: - Meu bom Jesus, Vós, preso; e eu, também. Estamos presos, os dois. Vós, preso para meu bem; e eu, presa das Vossas mãos. Sois Rei e Senhor de tudo; e eu, um verme da terra. Ó Mãezinha, obtende-me que eu fique pura, que eu fique como um anjo. Pura como fiquei depois do meu baptismo, para que, pela minha pureza, mereça a compaixão do meu Jesus, de O receber sacramentalmente todos os dias e de possui-lO sempre em mim até dar o último suspiro. Mãezinha, vinde comigo para os sacrários, para todos os Sacrários do mundo, para toda a parte e lugar, onde Jesus habita sacramentado. Fazei-Lhe a minha humilde oferta... Ó Mãezinha, eu quero andar, de Sacrário em Sacrário, e pedir favores a Jesus, como as abelhinhas, de flor em flor, a chupar-lhes o néctar”. Celeste poesia Ninguém tem uma sensibilidade poética tão apurada como os místicos. Fascinados pelos deslumbramentos do mundo sobrenatural, gritam a todas as criaturas que as ajudem a louvar, a glorificar o Senhor de tanta bondade e de tão grandes perfeições. A Alexandrina, com a requintada sensibilidade da sua alma de poeta, sente o coração incendiado pelas divinas loucuras do Prisioneiro dos Sacrários, e então, ela quer que tudo nela se multiplique em infinitos actos de amor eucarístico. É imenso, é quase infinito o número de seres que constituem a natureza. Ela, delirante de adoração, apossa-se deles, de todos eles, para os converter em outros tantos louvores eucarísticos. Ouçamo-la: “O Jesus, cá está a Mãezinha; escutai-A; é Ela que vai falar por mim, ó querida Mãezinha do Céu, ide dar beijinhos aos Sacrários, beijos sem conta, abraços sem conta, mimos sem conta, carícias sem conta, tudo para Jesus Sacramentado, tudo para a Santíssima Trindade, tudo para Vós! Multiplicai-os muito, muito, e dai-os dum puro e santo amor, dum amor que não possa mais amar, cheios dumas santas saudades, por não poder ir eu já beijar e abraçar a Jesus Sacramentado, à Santíssima Trindade, e a Vós, minha Mãe querida. Ó meu Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que respirar, cada segundo das horas que passar, sejam actos de amor para os Vossos Sacrários. Eu quero que cada movimento dos meus pés, das minhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir os olhos ou os fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada tristeza, cada tribulação, cada distracção, contrariedades ou desgostos, sejam actos de amor para os Vossos Sacrários. Eu quero que cada beijinho que Vos der nas vossas santas imagens, na da Vossa e minha querida Mãezinha, nos Vossos santos ou santas, sejam actos de amor para os Vossos Sacrários. Ó Jesus, eu quero que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo encerra, oferecida, às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam actos de amor para os Vossos Sacrários. Eu Vos ofereço as folhas das árvores, todas as frutas que elas possam ter, as florzinhas oferecidas, pétala por pétala, todos os grãozinhos, sementes e cereais que possa haver no mundo e tudo o que contém os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como actos de amor para os Vossos Sacrários. Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas das avezinhas, o gorgeio das mesmas, a plumagem e as vozes de todos os animais, como actos de amor para os Vossos Sacrários. Ó Jesus, ofereço-Vos o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como actos de amor para os Vossos Sacrários. Ó Jesus, tudo o que o mundo encerra, todas as grandezas, riquezas, e tesouros do mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho o costume de oferecer-Vos, tudo quanto se possa imaginar, como actos de amor para os Vossos Sacrários. Ó Jesus, aceitai o Céu e a terra, o mar, tudo o que contêm, como se fosse meu, e eu pudesse dispor e oferecer-Vos, como actos de amor para os Vossos Sacrários”. O coração da Alexandrina é uma combustão viva de amor eucarístico, amor que a converte em abrasado serafim. Ela quereria amar infinitamente o seu Jesus sacramentado; mas sentindo a infinita pequenez do seu coração e olhando os seres da natureza, aproveita-os como amplificadores do seu amor. Faminta da Sagrada Comunhão A Sagrada Eucaristia era o centro de gravidade, em volta do qual se movia o seu coração apaixonado pelo Senhor. A 1-8-1944, ela escreve: “Jesus, Jesus, não me deixeis sem Vos receber! Perder tudo, tudo, mas comungar! Perder tudo, mas possuir-Vos! Chamava à quinta-feira o seu dia, por ser o dia da instituição eucarística. Um dos seus maiores martírios era ficar privada da Comunhão. Disso se queixa, a 8-9-1950: “Passei dias sem receber o meu Jesus, nesta semana. Custa-me tanto passar sem Ele, sem o receber!... Sofri dor que sei dizer, com a falta do meu Senhor. Quando vinha algum Padre que se prontificava a ir buscá-lO, sentia não sei o quê na minha alma, parecia-me que saía fora de mim, e ficava numa ansiedade indizível até que Ele chegasse. Jesus Sacramentado é tudo. Sem Ele não posso viver. Quem me dá Jesus, dá-me toda a riqueza do Céu e da terra”. A 21-9-1951, escreve: “Por o Sr. Abade não estar, passei esta semana três dias sem comungar. Senti a falta de Jesus. Tenho necessidade do Seu conforto, pois só Ele é a vida da minha vida, a força do meu sofrer. Mas sofria por não ter aquela pena que gostava de sentir, por não ter comungado. Mas ontem, que tive a dita de um sacerdote me dar Jesus, não sei o que senti. Logo que o meu coração ficou de posse d’Ele. Era uma grandeza tal, era o Céu em mim”. D. Maria José Neves Correia e Silva dá as suas impressões: “Uma devoção particular lhe notei: a da Eucaristia, a dos Sacrários abandonados. Vi-a, um dia, levantar-se da cama, e cantar e rezar, voltada para o Sacrário da sua igreja”. As almas famintas do Pão do Céu encontram as suas delícias na comunhão. “Havia talvez um ano, que recebia diariamente Nosso Senhor, pois até lá recebia-O raras vezes no mês, o que me fazia sofrer muito e sentir muitas saudades de Jesus. Não sei o que foi, mas talvez um milagre, que levou o Sr. Abade a trazer-me o Senhor todos os dias. Eu pedi a Jesus esta graça e foi uma das minhas maiores alegrias: alimentar-me do Pão dos Anjos, todas as manhãs”. Agradecendo a um sacerdote que lhe levou o seu Jesus, escreve a 11-11-1941: “É o alimento sagrado, sem o qual não posso viver. Morro por Jesus!” Foi vista, muitas vezes, arrebatada, depois da Comunhão. E uma vez, saltou da cama, para se ajoelhar diante da Hóstia consagrada, arrebatada diante do Senhor, colocado, pelo Pároco, sobre a mesa do seu quarto. Numa hora de adoração feita no seu quarto, narra: “Foi muito linda. Cantaram e eu também queria cantar, mas não sentia forças para o fazer. Mas sempre cantei alguma coisinha! À vista disto, mais me confundo e envergonho. Custou-me imenso conter-me, sem me levantar. Ao contemplar a Sagrada Hóstia, parecia-me que o meu coração voava para ela, e sentia ímpetos para ir ajoelhar-me junto dela. Parece-me que não convinha. Era o que mais me afligia, se não tinha forças para me dominar”. O Padre Felício que lhe deu várias vezes a Comunhão, escreveu: “O seu olhar, sobre a Sagrada Partícula, quase dava a entender que via a presença real, no momento supremo em que, sobre a sua língua, se punha a Hóstia Sagrada”. A Comunhão era uma das suas maiores recomendações: “Comunguem muitas vezes, comunguem sempre. O mundo vai mal, porque se comunga pouco. Se os homens comungassem, o mundo andaria melhor”. Deixou, como testamento, estas palavras, pronunciadas no dia da sua morte: “Comunguem muitas vezes, rezem o terço”. Se a Missa é o Jesus do Calvário imolado sobre o altar, ela devia ocupar um lugar cimeiro nas suas devoções. Falando das suas orações diárias, escreve: “Depois, continuava: Ó meu Jesus, eu me uno em espírito neste momento, e desde este momento, para sempre, a todas as Santas Missas que de dia e de noite se celebram na terra. Jesus, imolai-me conVosco, a cada momento, no altar do sacrifício; oferecei-me conVosco ao Eterno Pai, pelas mesmas intenções por que Vós mesmo Vos ofereceis”. Era dia de festa, aquele em que tinha Missa no seu quarto. Escreveu: “Em 20 de Novembro de 1933, tive a graça de ter, pela primeira vez, no meu quartinho, o Santo Sacrifício da Missa”. Numa estampa, oferecida à irmã, diz:“Retribuamos, com o n/ amor, tantos benefícios recebidos de Jesus-Menino! O dia da minha Missa!... Tantas graças de Nosso Senhor e eu tão mal sei corresponder! Não te esqueças, minha irmã, que foi no dia 29-12-1937 que Nosso Senhor veio, pela 13.ª vez, baixar do Céu à terra, neste pobre e humilde quartinho”. A medida que se aproxima o fim da sua permanência neste mundo, redobram os apelos à prática da Eucaristia e do Rosário. A 19-11-1954, é Jesus quem fala: “O mundo peca loucamente, dia e noite. Não cessa de desafiar a Justiça de Meu Pai. Muitas almas levam vida de vícios. Os maus exemplos abrem abismos para a perda de tantas, tantas almas. Vigilância à Igreja. Principie a Igreja. Haja uma renovação de vida. Minha filha, oh! como eu vejo o mundo! O q espera do mundo! Chama para Mim as almas! Recebe o Meu Sangue! Vive a Minha vida! Faze viver esta vida! Fala da Eucaristia! Dize, diz que ali estou como homem e como Deus! Dize que quero q Me amem como Eu amo. Fala-lhes do amor eucarístico e da necessidade em Me receberem. Fala-lhes do Rosário. Fala-lhes do amor da Minha bendita Mãe”. Isto dizia Jesus, já no último ano da sua vida, 7-1-1955. E a 26-11-1954: “Escuta, louquinha das almas! Escuta, louquinha da Eucaristia! Estou aqui só por amor. Os homens não compreendem este amor. Estou aqui para ser Alimento e Vida. Os homens não querem alimentar-se e viver a Minha vida. Fala-lhes do Meu amor. Comunica-lhes o Meu amor... Pede às almas para virem ao Sacrário e viverem do Sacrário”. “Mostrando-me o Rosário, fez-me sentir, como se nas minhas mãos o enleasse muito, e continuou: “Fala do Rosário da Minha Bendita Mãe. Fala às almas dos grandes meios de salvação”. Está já no fim do penúltimo ano da sua vida, 10-12-1954, e Jesus Eucaristia continua a revelar-Se-lhe. Eis a descrição da sua visão: “Apareceu um altar. A porta do Sacrário estava aberta. As Hóstia, brancas, no cibório. Jesus sentou-Se ao lado do altar, e fez que o outro lado eu me sentasse tb. Não vi os assentos em que nos sentámos. Jesus, sobre o altar, colocou a Sua mão e, sobre ela, a Sua sacrossanta cabeça. Ele fez que eu fizesse o mesmo. A minha mão direita ficou unida à Sua mão esquerda. De dentro do Sacrário, daquelas Hóstias tão brancas, saíam raios dourados e mais brilhantes do que o sol, passaram por entre nós. Jesus, cheio de doçura, dizia-me: “Minha filha, mimo eucarístico, estou ali, no Sacrário, naquela Hóstia pura, em corpo, alma e divindade, tal como estou aqui. Confia, Minha filha e esposa querida! Fala ao mundo deste mistério. Diz aos homens q se abeirem de Mim. Quero dar-Me a eles, muitas vezes, todos os dias, se for possível. Que venham com os seus corações puros, muito puros e sequiosos. Se vierem ao Sacrário com as devidas disposições e rezarem o Rosário ou 1 parte do Rosário, todos os dias, nada mais é preciso para q se afaste a Justiça de Deus. O Rosário, o Sacrário e as Minhas vítimas são suficientes, p/ q o mundo seja dado o perdão e a paz. Quem vem ao Sacrário, vive puro. Quem vive à sombra da Minha bendita Mãe, vive da Sua Pureza. E assim, a humanidade vive a vida nova, pura e santa, tantas vezes por Mim recomendada, neste quartinho”. Desapareceu esta visão e eu fiquei nas trevas a repetir o meu “creio”.
MENSAGEIRA DA MÃE DO CÉU
Coração de Maria e Alexandrina: Mãe e filha.
Ao serviço da Rainha do Céu e da terra Jesus e Maria foram os grandes amores do coração da Alexandrina. Tratava Nossa Senhora com tanto afecto, que Lhe chamava “Mãezinha”. O Papa Leão XIII consagrou o mundo ao Coração de Jesus, no dia 11 de Junho de 1899, a pedido da Irmã Maria do Divino Coração, Droste zu Vischering, Superiora do Recolhimento do Bom Pastor, do Porto. O Papa Pio XII consagrou o mundo ao Coração Imaculado de Maria, no dia 31 de Outubro de 1942, encerramento das Bodas de Prata de Nossa Senhora de Fátima. E foi também de Portugal, que o Céu se serviu para fazer o pedido à Santa Sé; e a Alexandrina foi mensageira escolhida. Em carta dirigida ao P. Mariano Pinho, datada de 1-8-1935, ela diz-lhe que Nosso Senhor, depois de lhe falar dos pecados do mundo e da necessidade de almas reparadoras, acrescenta que “assim como pediu a Consagração do mundo ao Seu divino Coração, assim agora também lhe pede que ele seja consagrado a Sua Mãe Santíssima”. A 10-9-1936, diz-lhe Ele: “Este flagelo (a guerra civil de Espanha) é um castigo, é a ira de Deus. Eu castigo para os chamar; a todos quero salvar. Morri por todos. Eu não quero ser ofendido e sou-O tão horrorosamente na Espanha e em todo o mundo”. Depois, apontando, como remédio, a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, acrescenta: “Vou dizer-te como vai ser feita a Consagração do mundo à Mãe dos homens e Minha Mãe Santíssima. Amo-A tanto! Será em Roma, pelo Santo Padre, consagrado a Ela o mundo inteiro e depois, pelos Padres, em todas as igrejas do mundo, sob o título de Rainha do Céu e da Terra e Senhora da Vitória... Não haja receio, que os Meus desejos hão-de ser cumpridos”. E foram cumpridos, como se disse atrás, em Outubro de 1942. Em Agosto de 1936, o Senhor queixa-Se de nada se ter feito pela Consagração e manda escrever ao Papa, senão, o flagelo que a Espanha está a sofrer, estender-se-á ao mundo inteiro. O Padre Mariano Pinho escreve ao Cardeal Pacelli, Secretário de Estado de Pio XI. Por ordem da Santa Sé, a doente é examinada pelo Padre Durão Alves, S.J., em 21 de Maio de 1937. Insistindo o Senhor na consagração, o Padre Mariano Pinho escreve de novo ao Cardeal Pacelli, a 9 de Fevereiro de 1938. No fim deste ano, segue o último pedido para o Sumo Pontífice, e o Cónego Manuel Pereira Vilar, do Colégio Português em Roma, é encarregado de visitar a doente, que é grande vítima da consagração. O Senhor atormenta-a com sofrimentos cada vez maiores, porque não são atendidos os Seu desejos. Quem está a pagar a Consagração pedida e não realizada é a Alexandrina, com indescritíveis angústias do corpo e da alma. A 2-5-1938, Jesus comunica-lhe: “Diz ao teu Director que escreve ao Santo Padre e lhe diga que o estado da alma mensageira dos Meus divinos desejos é doloroso, que tenha compaixão dela. Saiba o Papa que, se a Alexandrina tanto sofre, é porque o mundo não é consagrado ao Coração Imaculado de Maria”. Este sofrimento aumentará sempre até culminar na paixão, no dia 3 de Outubro de 1938 que ela sofreu semanalmente, durante quatro anos. Jesus dizia-lhe no êxtase da Paixão do dia 20 de Janeiro de 1939 que “o mundo estava suspenso por um fio fragilíssimo. Ou o Santo Padre se movia a consagrá-lo, ou o castigo viria sobre o mundo”. E Jesus acrescentava que a Sua Mãe era remédio para tudo. Mas, enquanto se não realizasse a consagração, crucificaria a Sua Alexandrina”, cujos êxtases eram cada vez mais dolorosos. Jesus fez saber q o Papa q Lhe fizer a vontade, o levará direito p/ o Céu, sem passar pelo purgatório. Entretanto, morre Pio XI. E no dia 2 de Março de 1939, é eleito o Papa Cardeal Pacelli, que toma o nome de Pio XII. No êxtase de 20 de Março de 1939, o Senhor insiste na Consagração, mas dá-lhe a grande notícia: “Será este Papa que dará a Consagração”. No decorrer de 1938, Jesus não esconde à Sua confidente a gravidade da situação. No dia 11 de Setembro de 1938, Jesus diz-lhe: “Eu não posso mais com a monstruosidade do pecado! Penitência, penitência em todo o mundo, penitência! Ou o mundo se levanta rápido ou, na mesma rapidez, será destruído! Ai do mundo! A justiça divina não pode mais suportá-lo! Entristece-te coMigo... Diz depressa ao teu P. E.: Eu quero q isto se faça ouvir no mundo, com a fortaleza do trovão e a luz luminosa do relâmpago: PENITÊNCIA! PENITÊNCIA! PENITÊNCIA! DEPRESSA VIRÁ O DIA DA CATÁSTROFE. Não duvides, nem um instante, que é o teu Jesus Quem te fala”.
Começa o incêndio
A 13 de Julho de 1917, disse Nossa Senhora em Fátima.
“Esta guerra vai acabar, (1 de 1914-18), mas se os homens não deixarem de ofender a Deus, virá outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes por meio da guerra, da fome e das perseguições à Igreja e ao Santo Padre”. “O grande sinal” anunciador da guerra, deu-se de 25 para 26 de Janeiro de 1938. A escuridão da noite foi iluminada por uma grandiosa aurora boreal. No decurso do ano de 1939, Jesus não esconde à Sua confidente a gravidade da situação. A 13-6-1939, diz-lhe, depois de ela comungar: “Ó Justiça, ó Justiça divina! O mundo está em cima dum vulcão de fogo! O qual só falta um momento para abrir-se e incendiá-lo. Vingança, vingança dum Deus que não pode suportar mais! Infeliz, não ouves a voz que te chama?” A profecia de Fátima cumpriu-se, 22 anos depois. O dia da catástrofe anunciado em Setembro de 1938, chegou no ano seguinte. No primeiro de Setembro de 1939, Hitler deitou fogo ao mundo, ao desencadear a segunda guerra mundial. A guerra foi o flagelo com que a justiça do Eterno penitenciou o mundo pecador, durante seis anos. Nesta guerra, a Alexandrina não pôde ser o pára-raios do mundo, mais foi-o da Sua Pátria. Bem grave era o risco que Portugal corria, neste conflito, com a sua privilegiada situação estratégica. Por duas vezes, as tropas germânicas estiveram concentradas nos Pirineus, para invadir a Península. Depois, sem se saber como, recebiam contra-ordem para retirar. É que, acima das Superpotências divina é movida por duas forças que se chamam oração e reparação. Foram estas que entraram em acção. Ouçamos o que Alexandrina disse no êxtase de 4 de Julho de 1940: “Depois duma breve oração e da oferta de mim mesma com as outras vítimas, em união com a Mãe do Céu, para obter que Jesus libertasse Portugal do terrível flagelo da guerra, fui subitamente escutada: Jesus teve presa em responder-me: “Pedi e recebereis. Pedi com confiança. PORTUGAL SERÁ SALVO. Mas ai dele, se não corresponde a tão grande graça. Confia: é Jesus Quem o diz e não engana”. No êxtase de 6-12-1940, a Alexandrina pedia ao Senhor a paz para o mundo e a libertação do Papa e ouviu esta resposta: “A paz vem, mas à custa de muito sangue. O Santo Padre está poupado; o dragão soberbo e raivoso que é o mundo, não ousará tocar no seu corpo. Mas a sua alma será vítima dele”. O drama da Paixão sofrida pela Alexandrina era a prova, era o sinal, da parte de Deus, que Ele queria a Consagração. O último êxtase da Paixão foi a 27 de Março de 1942, Sexta-feira da Paixão, ano da Consagração. Seria por Sua Santidade a ter resolvido nessa ocasião? A 22 de Maio de 1942, O Senhor dizia a Alexandrina: “Glória, glória, glória a Jesus! Honra e glória a Maria! O coração do Papa, o coração de oiro, está RESOLVIDO A CONSAGRAR O MUNDO AO CORAÇÃO DE MARIA. Que dita, que alegria para o mundo ser consagrado, pertencer mais do q nunca à Mãe de Jesus! Todo o mundo pertence ao Coração divino de Jesus: TODO VAI PERTENCER AO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA...” E no êxtase de 29 do mesmo mês: “Ave-Maria, glória e triunfo para o Seu Imaculado Coração! Ave-Maria, Mãe de Jesus, Mãe de todo o universo! Quem não quererá pertencer à Mãe de Jesus? O mundo vai ser consagrado todo ao Seu divino Coração. Guarda, Virgem pura, guarda, Virgem Mãe, em teu Coração Santíssimo, todos os Teus filhos”. A 16-6-1939, festa do Coração de Jesus, diz-lhe: “Em que montão de ruinas ficarás o mundo! É pela gravidade da tua malícia! Converte-te, arrepia caminho!” No ano anterior, tinha dito a visão nítida da guerra. A 25-4-1938, dita ela: “Eu via uma destruição tão grande, casas que caiam, e, m pouco tempo, pareciam como que submersas pelas águas. O Senhor disse-me: “O que vês é o castigo preparado para o mundo. Parece-te sentires-te rejeitada por Mim, é isso que deveriam sentir os pecadores. A impressão de estares sepultada sob os condenados do inferno, são eles que o mereciam ainda mais terrivelmente”. A Alexandrina não foi só uma vítima imolada pela Consagração ao Imaculado Coração de Maria, realizada, como se disse, no dia 31 de Outubro de 1942; foi também uma fervorosa apóstola do Seu Rosário, como Nossa Senhora lhe pediu com tanto empenho. A 8 de Outubro de 1955, Nossa Senhora diz à Alexandrina: “Fala às almas, fala-lhes da Eucaristia, fala-lhes do ROSÁRIO. Que se alimentem da carne do Corpo de Cristo e do alimento da oração: do Meu Rosário quotidiano”. Depois, a Virgem, a chorar, diz a Jesus: “Tentemos, Meu Filho, tentemos, com a Eucaristia, com o Rosário, com a imolação da Nossa vítima”. Mas antes deste colóquio, Jesus tinha dito à Alexandrina: “O mundo peca, Minha filha! Coragem! Oh que coisa o espera! O mundo peca, não Me escuta! Que será dele! Não posso mais sustentar a Justiça de Meu Pai!” E no primeiro de Outubro: “Grita ao mundo! Convida o mundo à oração, à penitência, ao máximo amor por Mim! Pobre mundo! Pobre mundo! Que será dele! Que coisa o espera, se não escuta este convite, este apelo divino”. Em 1 de Outubro de 1954, Jesus pede-lhe que espalhe um culto fervoroso aos Sagrados Corações: “Como por meio de ti, foi consagrado o mundo à Minha Mãe Bendita, faze, ó esposa, que se espalhe, em todo o mundo o amor dos Nossos Corações”. A 6-6-1938, Jesus diz-lhes: “O Coração da Minha Bendita Mãe está tão ferido pelas blasfémias que contra Ela se proferem! Tudo o que fere o Seu Santíssimo Coração, vem ferir o Meu, tão unidos estão os Nossos Corações! É por isso que a consagração do mundo Lhe há-de dar tanta honra e glória. Ao ele Lhe ser consagrado, hão-de ser abatidas e humilhadas aquelas línguas malditas, blasfemar. Coragem, Minha filha, que dentro em pouco tudo será realizado e depois verás no Céu a glória que Lhe foi dada”. Louca pela Mãe do Céu
Maria é o caminho mais curto para chegar a Jesus. Foi este o caminho que a Alexandrina escolheu para chegar ao Céu.
Que linguagem toa amorosa e afectuosa a sua para com a “Mãezinha”! Ela escreve no dia da Anunciação: “Ó Mãezinha do Céu, ó minha amável Senhora, quero um amor que seja capaz de sofrer tudo por amor Vosso, e do meu querido Jesus; sim, do meu Jesus, que é todo da minha alma, porque é a luz que me ilumina, é o Pão que me alimenta, o único caminho pelo qual eu quero caminhar. Porém, minha Soberana, sinto-me tão fraca para tantas contrariedades da vida: que seria de mim, sem Vós e sem o meu Jesus!” A 8-6-1951, ela dita: “Como poderia sofrer tanto se não fosse Jesus, a sofrer, a lutar, a vencer em mim? Ah, sim! Só Ele, com a querida Mãezinha, que são a força do meu calvário! É destes dois corações divinos que me vêm as ânsias de me dar, consumir até desaparecer, consumida nestes amores. É deles que nascem os desejos de sofrer e tudo fazer por amor. As mais pequeninas coisas levam-me ao sacrifício: calo-me por amor; não sou curiosa por amor; uso de caridade por amor, quando, por muitas vezes, os meus instintos queriam o contrário. Não posso proceder mal: tenho que usar a caridade de Cristo. Exige-o a Sua glória, exige-o amor, exigem-no as almas”. A 21-4-1939, escrevia ao Director: “Eu tenho dito ao meu Jesus: Eu quero que o amor ponha o meu coração numa ferida, numa chaga tão viva que jamais se possa curar”. A 7-9-1946: “Posso comer e beber noite e dia sem nunca a minha fome e sede serem saciadas. É devoradora – posso dizê-lo – é quase insuportável esta fome e esta sede. Não é de pão, não é de vinho, não é de manjares humanos; tenho fome e sede de Jesus, do Seu amor infinito; tenho sede e fome das almas. Quero dá-las, prendê-las todas a Jesus e não sei como. Morro, morro faminta e sequiosa. Quisera esconder-me de forma tal no amor do meu Jesus que, quando as criaturas me procurassem, não me encontrassem mais”. Quando lhe perguntavam onde lhe doía, era esta a resposta: “Não há no meu corpo onde caiba o bico de um alfinete, em que eu não tenha horríveis dores”. A 11-2-1955, tanto lhe pesa a cruz, que ela pôde dizer: “Nem me vale o Céu, nem me vale a terra! Ai de mim! A amargura da minha alma é mortal! Para descrever os meus sofrimentos, tais quais são, seria preciso a sabedoria de Deus. Pobre, pobre de mim! Que luta constante! Brado ao Céu, este não escuta! Na terra, não há quem me atenda, quem se compadeça de mim. Perder a Deus, perder a Mãezinha é perder tudo. Não existir Deus, não existir a Mãezinha é não existir nada. Que combate, meu Deus, que combate! Querer acreditar em Vós e na eternidade, na existência da alma, e não poder!... Que separação!...São tantas as horas em que sinto não ter corpo nem alma! Só o rastilho da dor e da agonia, só o rastilho do quase desespero existem. Eu não posso falar... A todo o custo, com os lábios, repito o meu “Creio”. Assim o fiz hoje na maior das amarguras, na maior profundidade das trevas”. É a amargura de se sentir abandonada de Deus. 30-3-1941: “Mãezinha, faze de mim o Teu Jesus. Toma-me em Teus braços, cobre-me com o Teu manto e incendia no meu as chamas do Teu amor. Só a ti quero amor e ao Teu e meu Jesus. Mãezinha, Mãezinha, a Ti recorro com confiança! Estou cega, dá-me luz; não tenho força, separa-me. Como Mãe, enche-me do Teu amor, para que com ele só a Ti ame e ao Teu e meu querido Jesus. Amo muito a minha querida Mãezinha do Céu. Ela também me ama muito. É tão boa! É quem me ensina a amar a Jesus!” 8-12-1949: “Ó toda pura, ó Imaculada! Ó Mãezinha, eu queria pedir a Jesus e a todo o Céu para Vos louvarem por mim, e por mim entoarem Vossos hinos e louvores! Eu, por mim, não sei, não sou capaz. Sinto-me tão pequenina e miserável e tão nada, ao pensar e falar de Vós, da Vossa pureza e grandeza, que sinto como se, mergulhada no meu nada, desaparecesse. Ó Mãezinha, dizer-Vos, dia e noite de alma e coração: és toda pura, és toda bela, em Ti não há mancha de pecado, és a obra mais sublime que saiu das mãos de Deus”. 25-3-1934: “Ave Maria, cheia de graça, Soberana Rainha do Céu e da terra, Mãe dos pecadores, eis a mais indigna de todas as Vossas filhas. Eu Vos agradeço de todo o meu coração, ó Santa Mãe de Deus, por terdes consentido que o meu amabilíssimo Jesus incarnasse em V/ puríssimas entranhas para redenção da humanidade!” Êxtase de 23-3-l940: “Que encanto será a tua morte: será a morte cheia da maior agonia, mas também cheia do maior amor! Diz-me, ó filha, por quem Me ofereces esses últimos sofrimentos da tua vida?” Por aquilo que for da Vossa vontade, meu Jesus; é só isso que eu quero. “Minha amada, Minha filha, quero que tu Me ofereças uma parte desses sofrimentos pelos sacerdotes, a fim de que aqueles que possuem a luz divina e compreendem a Minha vida nas almas, a possuam sempre mais e não tenham outra vida senão a Minha; por aqueles que não a compreendem, a fim, de que a estudem, porque não a estudando e não a compreendendo, não tentem apagar e extinguir essa mesma vida; e por todos aqueles que Me ofendem gravemente! A outra parte é pelo mundo inteiro... porque todo te pertence. Eu te confiei. Aquele que te conhecem, sentirão a tua perda. Continuarás a tua missão”. A Alexandrina suspirava pelo Céu. Ela queria que o dobre a finados pela sua morte fosse saudado sem tristeza. “Quando tocar o sino por mim ajoelhai, rezai, daí graça a Jesus e à Mãezinha por me terem levado. Que estas sejam as vossas lágrimas”. A Alexandrina foi como uma trombeta altissonante do Senhor, a chamar os pecadores à conversão. A sua morte aproxima-se, está apenas com um ano de vida. A 27-8-1954, mais um aviso do Céu: “A carne, as praias, as modas, os cinemas, os casinos, os teatros, o mundo, o mundo como peca! Um freio ao pecado!” Já no ano da sua morte, a 7-1-1955: “Salva-me as almas. Sempre te falei de almas. É a tua missão. Os corpos... os corpos... devem ser punidos. O mundo não quer receber o Meu perdão; não Me escutam”. A 1-10-1954, é o mesmo grito clamoroso: “Grita ao mundo, convida o mundo à penitência, a um incêndio de amor por Mim. Pobre mundo! Que será dele? Que coisa espera s não atender a este apelo divino!” A 29-10-1954: “Fala às almas. Minha filha, fala-lhes do Rosário e da Eucaristia. O Terço, o Terço, o Rosário, o Rosário! A Eucaristia, o Meu Corpo e o Meu Sangue! A Eucaristia, a Eucaristia, com as Minhas vítimas, eis a salvação do mundo! Se Eu tivesse muitas almas generosas, se Eu tivesse muitas vítimas como a deste Calvário com toda a generosidade, com todo o heroísmo, num abandono total, mas não tenho!... Minha filha, a tua vida é uma pregação contínua, quando falas, quando sorris, quando choras e gemes mais sobrecarregada com o peso da cruz. É puro exemplo para os grandes, para os humildes, para os sábios e doutores da Igreja. A tua dor leva as almas ao Rosário, à Eucaristia. Com a tua dor elas sobem estas duas escadas de salvação, dor e sangue, dor e sangue, dor e sangue, dor e cruz, cruz de salvação!” A 7-1-1955, Jesus diz-lhe: “Para ti não há mais invenções de sofrimentos, mas também os homens sabem inventar mais nada de crimes. Todas a s maldades atingiram os seus limites . Pobre mundo, pobre mundo, pobre mundo! Pobre Portugal, sem a vítima deste ditoso calvário” A 28-1-1955: “O mundo! O mundo! Ai dele, se não se converte! Acode às almas, acode às almas! Deixa-as vir a este fontenário enriquecido por Mim e que não se esgota. A escuridão do teu quarto convida-as a grandes coisas. É uma pregação para elas. Prega-lhes, prega-lhes sempre o teu quartinho a todos quantos a ele vivem. Prega-lhes toda a tua vida e esta pregação se estenderá ao mundo inteiro. Confia, confia! Tu és contada no número dos Meus Santos! Serás em breve levada ao Paraíso. Confia, confia, é uma afirmação de Jesus”. A 13 de Maio, Jesus diz-lhe: “As almas agarram-se a ti e saem do abismo da perdição em que estão mergulhadas. O universo está prevertido. Que loucura de crimes! Ó minha filha, tantas iniquidades! Repara o Meu divino Coração e faz com que seja amado como Minha Mãe Bendita! Coragem, coragem! Um passo mais e virei buscar-te para o Céu. Avante, coragem, rainha e mãe dos pecadores. Que triunfo a tua entrada no Céu! As almas que salvaste com o teu martírio, se apegaram ao Rosário, às pérolas sem fim das tuas virtudes, e à sombra do teu amor, hão–de cantar, louvar ao Senhor por te ter criado”. A 13-5-1955: “Vai, Minha filha, para o teu inegualável sofrimento. Dá esta vida, comunica às almas esta vida, como tanto desejo. Depois da tua morte, o teu túmulo, a tua sepultura há-de falar intimamente a milhares, a milhares de pecadores. As almas hão-de ir junto a ti, e por ti, como agora, continuarão a ser enriquecidas”. Começa a ter a sensação vergonhosa de andar despida e a sentir o apodrecimento do seu corpo. E a 9-8-1945, Jesus diz-lhe: “E a imodéstia, Minha filha, a imodéstia dessas almas provocadoras. Andam como despida a convidar ao mal. Apodrecem os seus corpos com os males causados. E o mal pior ainda é apodrecerem as almas”. O Senhor descarregou sobre a Sua vítima os rigores da Sua Justiça, fazendo dela uma vítima de expiação dos pecados do mundo. Em nome desta justiça, havia de acumular das mais doces carícias. A 3-11-1944, diz-lhe: “Minha rainha, Minha rainha, porque Eu sou o teu Rei, estou no Meu trono, reino em ti, és portanto Minha Rainha... Dou-te mais o título de rainha da dor, rainha do amor, rainha dos pecadores. Reinarás, triunfarás sobre eles”.
MENSAGEIRA DA CASTIDADE
Os catorze anos de idade marcam uma linha divisória importante na vida de Alexandrina.
Foi nessa idade que ela, para salvaguardar a castidade, teve de tomar uma atitude que lhe deixou a saúde definitivamente arruinada. Há homens tão obcecados por desejos libidinosos que parecem possessos do demónio da luxúria. Um dia, que ela trabalhava na costura com a irmã e outra amiga, aproximam-se três meliantes, dos quais, dois casados, e entram à força na casa para satisfazer os seus desejos sexuais. Ela saltou por uma janela e escreveu depois: “Sofri um grande abalo, porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas não pude, porque me deu uma grande dor”. Apesar disso, ainda pegou num pau e foi em socorro das companheiras, chamando “cães” aos agressores. Aos doze anos, a sua risonha primavera tinha sido ensombrada por uma grave doença e pela queda duma árvore. “Uma vez, andava a apanhar hera, numa carvalheira, para dar ao gado e caí abaixo, ficando algum tempo sem me poder mexer e sem respirar”. Começava o seu penoso calvário, agravado pela troça que dela faziam pessoas amigas, que não acreditavam no seu mal. Mas de consequências mais irreparáveis seria o salto da janela que causou compressão medular, a mielite. Acamou aos dezanove anos. Se ela se não curou, não foi porque não o desejasse e empregasse os meios para isso. Em 1928, pensou ir a Fátima, mas foi dissuadida, por não estar em condições de fazer a viagem, se fosse curada, seria missionária. “Como não consegui nada, morreram os meus desejos de ser curada e para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento”. O atentado ao pudor, na sua casa, não foi um acto isolado, mas um elo duma cadeia de atentados. “Com os meus 18 anos, ela, vi-me num perigo muito grande, inesperadamente. Lembro-me que levava o meu terço na mão e que apertei uma medalha de Nossa Senhora das Graças, e de repente livrei-me do perigo. Foi sem dúvida a Mãezinha do Céu que me valeu. Isto aconteceu várias vezes, mas tive sempre a Mãe do Céu a valer-me. Oh! Como Lhe estou agradecida!” Também se passou o seguinte: Foi fazer um recado a uma casa, onde alguém se agarrou a ela para o mal. Ela lutou com toda a força, mas vendo-se perdida, apertou o terço e com um empurrão atirou o agressor para a parede, conseguindo assim fugir. A tanto chegou o desaforo, que houve mesmo quem a não respeitasse, quando ela já estava pregada no seu leito de sofrimento! Lição bem aprendida - A Alexandrina recebeu do Céu graças, as mais extraordinárias. Deus conduziu-a aos mais altos graus da vida mística. Ela sentia a presença do Senhor na sua alma, com Quem falava e com Quem convivia na maior intimidade. Ela era toda disponibilidade perante a vontade do Céu. E quando perguntava a Jesus: “O que quereis que eu faça?”, a resposta era sempre a mesma: Amar, reparar, sofrer. Se a lei suprema do Evangelho é amar como poderia o Senhor não apresentar o amor, logo em primeiro lugar? Há duas ideias na linguagem cristã que são como duas irmãs gémeas, sempre inseparáveis: Amor e dor. “Caminhai na caridade, como escreve o Apóstolo (Efes. 5, 2), a exemplo de Cristo que no amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se a Deus, em sacrifício de agradável odor”. Amar a Deus, através de reparação e do sofrimento, foi a vida de Alexandrina. E que grande amante e que grande sofredora ela foi! O seu amor a Deus foi paixão, foi loucura, foi labareda. Não tinha outra vontade senão a vontade de Deus. A 13 de Setembro de 1948, escreveu: “Tenho o meu corpo cheio de ligaduras, sinto os ossos a desconjuntar-se. Mas esta só esta é a minha alegria: Sofrer por Jesus. Não me importa que, já sem vida, se à Vontade divina assim aprouver, todo o meu corpo se desfaça em podridão. O que eu quero é amá-lO a Ele, só a Ele. Não quero perder um momento de sofrimento, quero que ele seja aproveitado em favor das almas, das minhas almas, que custaram o Preciosíssimo Sangue do meu amado Jesus. Custa sofrer e por vezes solto gemidos, mas quero sofrer, e por nada do mundo trocava o sofrimento”. A 18-6-1946, diz: “Eu só tenho alegria neste mundo na vontade de Deus e no sofrimento, do contrário nada há que me alegre. Tudo é morte e dor para mim”. Mergulhada em sofrimentos e extasiada diante das maravilhas celestes que lhe são reveladas, ela não esquece os males da terra, não só a tristíssima miséria dos pecadores, como as necessidades dos indigentes. A verticalidade do seu amor divino está bem presente na horizontalidade do seu amor fraterno. Não têm conto as necessidades que ela socorreu, imobilizada no seu leito de sofrimento! Ela, pobre, ajuda os pobres com esmolas recebidas da generosidade de pessoas amigas. Conseguiu colocação em fábricas p/ muitos desempregados, e internamento de várias crianças em colégios e asilos. Dava ajuda aos pobres para a construção das suas casas. Deu pão a muita gente com fome. Mandou celebrar Missas por defuntos cujas famílias não tinham meios para o fazer. Palavras suas: “Não posso saber que os pobrezinhos têm fome e não têm com que se cobrir. Não posso saber que os meus semelhantes estejam em grandes aflições, sejam elas quais forem. O meu coração, apesar de ser tão mau, sofre, sofre, morre por não poder desfazer-se em pão, agasalhos e alegria, consolação e bálsamo para quantos sofrem. Jesus, amo a todos e a todos quero consolar por Vosso amor! Eu era muito amiga dos velhinhos, pobrezinhos e enfermos e quando sabia que algum não tinha roupinha para se cobrir, pedia-a à minha mãe e ia levar-lha, ficando por vezes a fazer-lhe companhia. Assisti à morte de alguns, rezando o que sabia; ajudava a vestir os defuntos, o que me custava imenso. Fazia-o por caridade, não tinha coração para deixar sozinha a família dos mortos, e, por serem pobrezinhos, fazia-o com muito gosto”. Um testemunho: “Como recebia com alegria esfuziante as esmolas que lhe davam para distribuir pelos pobres, como as guardava no saquinho de pano que tinha debaixo do travesseiro, para se servir delas logo que alguém se aproximava a pedir-lhe esmola, ou a manifestar as suas necessidades!” Quando o seu coração de ouro deixou de bater, com razão pôde dizer o povo da sua terra:- “ Morreu a mãe de Balasar! Morreu a mãe dos pobres!” MENSAGEIRA DO SOFRIMENTO
“Sem saber como – escreveu ela – ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há muito, pedindo amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu tanto, pedindo amor ao sofrimento. Nosso Senhor concedeu tanto, tanto esta graça, que hoje (escreve em Outubro de 1940) não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor, toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava. Com a perda das forças físicas, fui deixando as distracções do mundo e com o amor à oração – porque só orar me sentia bem – habituei-me a viver em união íntima com Nosso Senhor. Quando recebia visitas que me distraiam um pouco, ficava toda desgostosa e triste, por não me ter lembrado de Jesus durante esse tempo”.
Ofereceu-se como vítima, sem saber como? Movida pelos toques misteriosos do Espírito Santo, que conduz as almas duma maneira tão discreta e delicada! Mas que vem a ser uma vítima? Vítimas são pessoas escolhidas para pagar dívidas alheias. Uma vítima é uma alma a martirizar, a sacrificar, como a azeitona é esmagada no meio dos lagares, como o trigo é moído nas pedras do moinho. São tantas as culpas da humanidade a desafiar a ira de Deus, que ela seria fatalmente castigada pela justiça divina, se essa mesma justiça não fosse desarmada, contrabalançada pela reparação das almas vítimas que são verdadeiras pára-raios do mundo. O castigo que o mundo devia sofrer, sofrem-no as almas vítimas, cujo espírito e corpo ardem em holocausto permanente. O Senhor descarrega sobre ela a sua Justiça ofendida, como as descarregas eléctricas caem sobre os pára-raios. O prazer do pecado é reparado e expiado pela amargura do sofrimento. Os roubos feitos às criaturas, muitas vezes, não são restituídos; mas nenhum roubo feito a Deus, à Sua Glória, pelo pecado, fica sem restituição. É tudo restituído, nesta vida ou na futura. As almas vítimas sofrem tormentos indescritíveis pelos pecados que não são delas, por culpas que são dos outros. Elas são inocentes; mas, como Jesus, sofrem como se fossem grandes criminosas. Estão a responder pelos pecados do mundo. Esta foi a vocação da Alexandrina. Subiu a grandes alturas na vida mística com êxtases e visões. Mas não raro, como sucedeu com ela, a vida mística é acompanhada de sofrimentos incríveis. Ela teve sofrimentos naturais, preternaturais e sobrenaturais. Os naturais foram físicos e morais; os preternaturais foram causados por satanás; e os sobrenaturais foi Deus quem lhos enviou. Qualquer deles foi indescritível. Os sofrimentos físicos foram atrozes, causados pela compressão medular ou mielite, provocada pela queda, que a deixou completamente paralítica. O seu corpo estava deitado sobre tábuas duras, não podendo estar doutra maneira. “Sentia astenia profunda, e dores por todo o corpo; dizia não haver parte nenhuma que estivesse sem dores, sendo estas acentuadíssimas na região lombo-sagrada e nos membros. A pressão em qualquer parte do seu corpo produzia dores horríveis, mas principalmente na região lombo-sagrada, na hipogastro e no flanco esquerdo. Estas dores são tão intensas, escreveu alguém, que tornam por vezes lívido o seu rosto, mas sem um queixume, havendo resignação completa e constante”. Quando aos ataques de Satanás, ouçamo-la: “O demónio rodeia a minha cama, assusta-me; parece meter-se debaixo das almofadas, a esgadanhá-las, desesperado. Tive com ele um violento ataque. A sua maldade não tem limites. Levava-me ao mal, nomeava-me alguém como instrumento de pecado. Quando me parecia que na realidade pecava, por uns momentos pareceu-me quase perder os sentidos. Gritei de alma e coração: Jesus, Jesus, a sério, antes quero o inferno do que ofender-Vos. O inferno, o inferno, antes que pecar contra Vós. Logo fiquei libertada, mas sem um conforto do meu Jesus e sem uma palavra amiga”. Mas não foi só a maldade dos homens e as fúrias do inferno que teve de sofrer; também do Céu caíram sobre ela torrentes de sofrimento. Como alma vítima, Deus apertou-a na prensa da Sua tremenda justiça, fazendo-a sofrer a Paixão do Senhor. No ano de 1934, foi o primeiro convite para a suprema imolação: “Dá-me as tuas mãos que as quero cravar comigo, dá-me a tua cabeça que a quero coroar de espinhos, como Me fizeram a Mim, dá-me o teu coração que o quero trespassar com lança, como Me trespassaram a Mim. Consagra-Me todo o teu corpo; oferece-te a Mim que te quero possuir por completo, e fazer o que Me aprouver. Os pecados do mundo estão a provocar a vingança do Céu. Sou tão ofendido! Que desagravem os delitos do mundo, de outro modo, será castigado! Avisei Sodoma e Gomorra e não fizeram caso. Infelizes... sucederá a mesma coisa”. “A justiça do Eterno Pai caía sobre mim, enquanto Ele me gritava muitas vezes: Vingança! Vingança! À voz terrível do Eterno Pai, passava os dias e as noites, rolando-me no leito”. Os místicos sofrem provações dolorosíssimas comparáveis aos tormentos do inferno. O maior tormento dos condenados do inferno é a pena de dano. Perderem a Deus, que era o sumo Bem, para o qual tinham sido criados e perderam-n’O para sempre. O Céu é a visão beatífica, é Deus possuído, visto face a face pelos bem-aventurados. Na vida mística, há iluminações tão esplendorosas que são quase visão beatífica. A alma fica embriagada de felicidade; mas, num instante, mudou o cenário. O sol tão luminoso e tão quente escondeu-se, e ficou a escuridão da noite, escuridão tão cerrada e tão fria! A alma ficou sepultada nas trevas, trevas nos sentidos, trevas no entendimento. Toda ela é aridez; sente-se como um condenado, abandonado de Deus. Como Jesus na cruz, ela exclama: “Meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt. 27, 46). Ela participa da agonia de Jesus, no Jardim das Oliveiras, que revelou a S. Margarida Maria: “Foi ali que eu sofri mais do que em todo o decurso da Minha Paixão, vendo-Me num abandono total do céu e da terra, carregado dos pecados do mundo”. O cirurgião, quando utiliza o bisturi, faz doer e gritar, mas não é para matar, é para curar, é para salvar. As operações dolorosas a que Deus sujeita as almas místicas, são para sua maior purificação, são para as tornar mais dignas de Si. Por isso, Ele teve de usar desta santa crueldade com a Alexandrina. A partir do fim de 1935, começa a subir o íngreme calvário das desolações mais angustiantes. O Senhor deixa-a no abandono e o demónio enfurece-se contra ela. Para ela tudo é morte. Julga que os seus sofrimentos nada valem, tanto para consolar o Senhor, como para converter os pecados. Tem ela a palavra: “A 7-11-1935, parece que dia a dia, me vai desaparecendo tudo cada vez mais. Parece que se escurece aquele sol divino que tanto aquecia, alumiava e dava força à minha pobre alma. Mas paciência! Quero sofrer tudo por amor do meu amado Jesus e para Lhe salvar muitas almas. Foi esta a missão que o Senhor me confiou neste mundo, não é assim?” A 15-1-1936, escreveu: “O meu querido Jesus ainda se não deu por satisfeito na minha crucifixão. Atende bem os meus pedidos de aumentar os meus sofrimentos. Além das enormes dores que me torturam, sinto de novo parecer-me que estou suspensa, como quem anda num bamboão, abaixo e acima, para um lado e para o outro, e causa-me grande aflição em todo o meu corpo. Também me têm aumentado muito os sofrimentos do braço esquerdo. Bendito seja Nosso Senhor! Faça-se a sua santíssima Vontade que é também a minha. Mas unindo os sofrimentos do corpo aos da alma, é que são elas! Só com a força divina é que eu posso resistir. Este abandono completo, em que o meu amado Jesus Se digna ter-me, custa-me. Não ter eu um momento de luz, nem de consolação espiritual!” A 16-3-1936, escreve ao Director: “Ontem de manhã senti uma tristeza tão profunda! Parecia-me ver-me cercada e sobrecarregada de não sei o quê. Figurou-se-me que ouvia dizer: que enorme peso de pecados tens sobre ti e sobretudo a ira, a grande ira, toda a ira de Deus! O que tens que pagar! Eu ofereci-me toda a Nosso Senhor. Dizia-lhe: meu Jesus dou-me toda a Vós, para Vos pagar quanto me seja possível, até ao último alento, até que eu dê o meu último suspiro e entrego nas Vossas divinas Mãos a minha alma, para Vos bendizer, louvar e amar por toda a eternidade. Ó Meu Jesus, sede comigo, não me abandoneis. Eu sou nada, nada, mas confio em Vós. Fiquei por bastante tempo muito aflita: eram dúvidas e mais dúvidas e não sabia se sim ou não havia de dizer isto a V. Rev.cia, parecendo que ouvia dizer: queres obedecer?...” Aumenta a escuridão. Em 1935, o Senhor previne-a que morreria antes da festa da SS Trindade de 1936. “Como não conhecia outra morte, escreve ela, pensava que era deixar o mundo e partir para a eternidade... dois dias antes, Nosso Senhor disse-me que morreria das 3 para as 3,5 horas da manhã e q mandasse vir o meu Padre Espiritual. Ela chegou ao cair da tarde e passou a noite junto de mim (e a família). Preparei-me p/ morrer. S. Rev.cia fez comigo 1 ato de inteira resignação e conformidade com a Vontade de Deus... A aflição ia aumentando e à hora marcada por Nosso Senhor, não sei o q senti, deixando de ouvir o q se passava à volta de mim...” Aumentava a agonia e rezavam-lhe as orações dos agonizantes, e colocaram-lhe uma vela benta nas mãos, sem ela ter consciência disso. Julgaram-na morta e começaram a chorar. De repente, ela começou a ouvir os soluços, começou a respirar na presença de Deus. Escreveu ela: “Nunca soube exprimir o que experimentei naquela hora predita por Nosso Senhor. Não tinha pena de deixar o mundo e os meus entes queridos, mas quando vi que ia melhorar e não se cumpriam as palavras de Jesus, caiu sobre mim um tristeza, que não se pode calcular e um peso esmagador. Passei a festa da Santíssima Trindade como moribunda e dentro de mim tudo era morte. As lágrimas corriam-me, as dúvidas eram quase insuportáveis... nos dois primeiros dias a seguir, parecia-me que todo o mundo estava morto. Era quase insuportável o meu viver”. Foi socorrida pelo Padre Oliveira Dias que: “esclareceu-me, contando-me várias passagens que se tinham dado com alguns santos e, desde então, fiquei a saber que se tratava da morte mística, da qual nunca tinha ouvido falar. O Sr. Padre Oliveira pareceu-me um anjo que veio do Céu a serenar a tempestade da minha alma. Continuei a viver muito atribulada, pois Jesus pareceu morrer também, ficando alguns meses sem ouvir a Sua divina Voz. Quando aumentava a agonia da alma, recordava as coisas que me tinham sido contadas e animava-me com o que me dizia o meu Padre Espiritual”. A morte, morte mística, não era no corpo, mas no espírito. A partir da festa da Santíssima Trindade, aumentam as trevas e o abandono do Senhor. O Céu tinha-se fechado. A Espanha ardia no incêndio comunista. Em fins de Agosto, o Senhor volta a falar-lhe: “Não temas, Minha filha; Eu sei o que faço em deixar-te em tantas trevas. Com este teu abandono e dores, salvaste-Me inúmeras almas de pecadores... Pede-Me pela Minha querida Espanha. Vês o castigo de que tantas vezes te tenho falado? Este incêndio estender-se-á a todo o mundo, se por toda a parte não se pregar a verdade e não se converterem os pecadores. Ou conversão ou castigo!” É o calor ardentíssimo do Verão que as uvas amadurecem e ficam prontas para delas se extrair o vinho delicioso. Antes de o Senhor vir colher este fruto já bem sazonado no Calvário de Balasar, e o levar para os celeiros eternos, ela vê-se cercada de tão densa trela que geme, como um pobre náufrago, que não tem quem lhe acuda. Foi uma coisa tão prolongada que chegou até à morte. A 13-9-1945, ela escreveu: “Trevas em mim e à volta de mim, trevas no corpo, no coração e na alma. Vejo, sinto que impossível atravessá-las sem um guia, sem uma luz. Esse guia, essa luz não aparece. Deverei morrer sozinha. Sozinha, vivo, sozinha, sem ninguém. Meu Deus! Meu Deus! Morro sem chegar ao fim destes mundos negros, tão aterradores. A minha vida é quase insuportável. Quanto mais sofro, mais despida me sinto, mais pobre e miserável me vejo diante de Jesus, mais indigna do Céu, do Céu que perdi por a vida que não soube aproveitar. Não segui os caminhos de Jesus: não O amei, não soube viver”. |
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