sexta-feira, 28 de maio de 2010
Maria ocupa um lugar único nos Céus
No conjunto dos Santos, Maria ocupa um lugar único, pois foi chamada a ser Mãe do Redentor e Mãe dos homens (cf Jo 19,25-27). Disto se segue que a veneração dedicada pelos católicos a Maria difere da devoção aos demais Santos. Prova disso é que existem verdades de fé (dogmas) concernentes a Maria, mas não os há em relação aos outros Santos.
Verdade é que os três dogmas marianos não são mais do que dogmas cristológicos. Com efeito, o Filho de Deus quis fazer-se homem (donde a Maternidade Divina); para ser digno habitáculo da Divindade, Maria nunca esteve sujeita ao pecado (donde a Imaculada Conceição) nem à conseqüência do pecado, que é o domínio da morte sobre o ser humano (daí a Assunção gloriosa aos céus).
A eminência do culto a Maria foi expressa pelo Concílio de Nicéia II, em 787, mediante o termo “hyperdulia” (super-veneração), ao passo que os demais Santos são cultuados em “dulia” (veneração). Conseqüentemente, devemos dizer que a devoção a Maria não é facultativa, ao passo que a devoção a São Francisco ou São Bento o é.
A necessidade do culto de hiperdulia a Maria se deduz do próprio Cristocentrismo da piedade cristã. Sim, São Paulo afirma que “fomos predestinados a ser conformes à imagem do Filho, a fim de ser ele o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29).
Assim, quanto mais o cristão se configura à imagem de Cristo, ou quanto mais se identifica com ele, tanto mais terá em seu íntimo os sentimentos de Cristo. Ora, Jesus era todo filho do Pai (como Deus) e todo Filho de Maria (como homem).
Donde se segue que quanto mais centrado em Cristo for o cristão, tanto mais deverá sentir-se filho de Maria. A devoção mariana, portanto, está na lógica mesma do “ser um outro Cristo”, ideal de todo cristão. O cristão deve procurar tornar-se, para Maria, um outro Jesus.
Diz, muito a propósito, o padre E. Schillebeechx: “Para quem está verdadeiramente consciente do papel de Maria, é impossível passar, sem Maria, uma vida que queira ser cristã, uma vida que não contrarie o apelo de Deus, não derrogue a ordem cristã, não negligencie as delicadas atenções de Deus. Os pregadores e as testemunhas de fé devem, por isso, levar a peito a pregação da devoção mariana e valorizá-la, porque ela está na medula do religião cristã” (Maria, Mãe da Redenção, pág. 97).
O mesmo autor desenvolve o papel de Maria na atual história da Igreja e de cada um de nós: “em nossa vida, Maria é o coração que dá. O coração que compreende as nossas necessidades e que, maternalmente, as expõe ao Filho, o Deus que continua sendo seu Filho”.
Ela pode lhe dizer, como em Caná: “Eles não têm mais vinho”. Ah, se pudéssemos ouvir o colóquio de Jesus e Maria a nosso respeito, veríamos como estão sempre a par de nossas necessidades.
Não esqueçamos que a vida terrestre atual, de que se ocupam a gloriosa Mãe e o Filho glorificado, só será realmente abençoada se a relacionarmos com as palavras de Maria aos servidores de Caná: “Fazei tudo o que meu Filho vos disser”. Degustareis então, o que ela vos der em nome do Divino Filho, e direis, como os convidados de Caná: “Guardaram o melhor vinho para o fim!” (Op. Cit. Pag. 121).
Com se compreende, pode haver expressões inadequadas da piedade mariana, mais inspiradas pelo sentimentalismo do que pela reta fé. A esse propósito escreveu o Concílio do Vaticano II: “O Concílio exorta com todo o empenho os teólogos e os pregadores da Palavra Divina a que, na consideração da singular dignidade de Mãe de Deus, abstenham-se com diligência tanto de todo falso exagero quanto da demasiada estreiteza de espírito (…) Com diligência afastem tudo o que, por outros, em erro acerca da verdadeira doutrina da Igreja. Ademais, saibam os fieis que a verdadeira devoção não consiste num estéril e transitório afeto, nem numa certa vã credulidade, mas procede da fé verdadeira, pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, excitados a um amor filial para com nossa Mãe e à imitação de suas virtudes” (Constituição Lumen Gentium, n° 67).
Eis como se deve conceber a piedade para com Maria Santíssima e para com os demais Santos.
Extraído da revista “O mensageiro de Santo Antonio”
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