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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sorriso, Agonia e Morte do Filho de Deus


Certa vez — corria o ano de 1630 — Frei Inocêncio de Palermo, humilde frade franciscano, resolveu esculpir em ébano um Crucifixo. Começou pelo corpo, a que conseguiu dar a forma desejada. E deixou para o fim a face, isto é, a parte mais difícil da tarefa. Que aspecto dar-lhe? Era funda e brumosa a perplexidade do frade. Uma noite, recostou-se com a alma pesada de incógnitas a respeito. E quando de manhã se acercou da obra que deixara inacabada, encontrou-a inesperadamente concluída, dotada de maravilhosa face, feita por um artista ignoto.

Era uma face em que harmoniosamente se fundiam a delicadeza, a varonilidade e uma sobrenatural unção, que a tornavam bem digna de ter sido obra noturna e misteriosa de um Anjo. Rica em aspectos, conforme o ângulo em que se situe o observador vê o Divino Crucificado sorrindo, agonizante ou já morto.

Conservado há três séculos no Santuário de São Damiano, em Assis, o Crucifixo maravilhoso de Frei Inocêncio vem sendo objeto constante da piedade dos peregrinos.

Que Vos levaria, Senhor, a sorrir do alto da Cruz?

Que abismo de contradição entre as dores, que da cabeça aos pés vos atormentam o Corpo sagrado, e esse sorriso que aflora doce, suave, meigo, entreabrindo-vos os lábios e iluminando-vos o rosto! Sobretudo, Senhor, que contradição entre o abismo de dores morais, que enche vosso Coração, e essa alegria tão delicada e tão autêntica que transluz em vossa Face! Contra Vós, todo o oceano da ignomínia e da miséria humana se atirou. Não houve ingratidão nem calúnia que Vos fosse poupada. Pregastes o Reino do Céu, e vossa pregação foi rejeitada pelo vil apetite das coisas da terra. O Demônio, o Mundo, a Carne, em infame revolta contra Vós, Vos levaram ao patíbulo, e aí estais à espera da morte.

E entretanto sorris! Por quê?

Vossas pálpebras estão quase cerradas. Quase… Mas ainda podeis ver algo. E o que vedes é, Senhor, a maior maravilha da criação, a obra-prima do Pai Celeste, uma alma — e quanta beleza pode haver em uma alma, embora o ignore o materialismo de nosso século — riquíssima e íntegra em sua natureza, cumulada por todos os dons da graça e santificada por uma correspondência contínua e perfeitíssima a todos esses dons! Vedes Maria. Vedes vossa Mãe. E no meio de todos os horrores em que estais imerso, tal é a maravilha que vedes, que sorris afetuosamente para a alentar, para lhe comunicar algo de vossa alegria, para lhe dizer vosso infinito e sublime amor.

Vós vedes Maria. E, ao lado da Virgem Fiel, vedes os heróis da fidelidade: o Apóstolo-Virgem, as Santas Mulheres — a fidelidade da inocência e a fidelidade da penitência. Vosso olhar, para o qual tudo é presente, vê mais, pois se alonga pelos séculos, e Vos faz ver todas as almas fiéis que hão de Vos adorar ao pé da Cruz até o dia do Juízo. Vedes a Santa Igreja Católica, vossa Esposa. E por tudo isto sorris, com o sorriso mais triste e mais jubiloso, o mais doce e mais compassivo sorriso de toda a História.

O Evangelho nunca Vos apresenta rindo, Senhor. E só as almas que ignoram a gargalhada frascária e baixa, e que lhe têm horror, possuem o segredo de sorrisos análogos a este!

Entre as miríades de almas que seguindo a Maria estão ao pé da Cruz, e para as quais sorris, também está a minha, Senhor?

Humilde, genuflexo, sabendo-me indigno, entretanto eu Vos peço que sim. Vós, que não expulsastes do Templo o publicano (cfr. Lc 18, 6-20), pelas preces de Maria não rejeitareis para longe de Vós um pecador contrito e acabrunhado. Dai-me do alto da Cruz um pouco de vosso sorriso inefável, ó bom Jesus.

Fonte: Lepanto

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