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domingo, 12 de setembro de 2010

O JARDIM FLORIDO DA IGREJA


No tempo actual, a Igreja parece ter-se tornado uma estrutura pesada, um corpo cansado, uma multidão desalentada. Há sinais que confirmam esta impressão. Todavia, se observarmos melhor o que se passa nas comunidades católicas, seremos surpreendidos por outra realidade. No discurso aos bispos em Fátima, Bento XVI confessou a sua admiração pelo fenómeno dos movimentos e novas comunidades eclesiais, testemunhando: “Observando-os, tive a alegria e a graça de ver como, num momento de fadiga da Igreja, num momento em que se falava de «inverno da Igreja», o Espírito Santo criava uma nova primavera, fazendo despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos, de viverem na Igreja que é o Corpo vivo de Cristo. Graças aos carismas, a radicalidade do Evangelho, o conteúdo objectivo da fé, o fluxo vivo da sua tradição comunicam-se persuasivamente e são acolhidos como experiência pessoal, como adesão da liberdade ao evento presente de Cristo.”

Sobre este sopro do Espírito, ainda antes de ser Papa, disse: “Parecia que, depois do grande florescimento do Concílio, tinha entrado gelo em vez de primavera, cansaço em vez de novo dinamismo. E a Igreja, depois de tantas discussões e fadigas na procura de novas estruturas, não estava realmente diminuída e escondida? Mas eis que inesperadamente, surge alguma coisa que ninguém tinha projectado. Eis que o Espírito Santo, se assim podemos dizer, tinha pedido novamente a palavra. Em jovens homens e jovens mulheres rejuvenescia a fé, sem “se” nem “mas”, sem subterfúgios nem escapatórias e vivida na sua integralidade como dom e como dádiva preciosa que a todos faz viver”.

Protagonista e testemunha deste acontecimento espiritual, Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, explica-o assim: “Na história difícil, conturbada e secularizada do século vinte, a vida cristã refloresceu. E refloresceu em situações difíceis. Refloresceu quando, tomados pelo bem-estar, parecia que se pudesse viver sem a fé. Este século, belo e terrível, tinha uma grande necessidade de Evangelho e de amor. Como aconteceu este florescimento? Frequentemente na pobreza e na prova de tantas situações dolorosas. Brilhou o aspecto sacramental e espiritual da Igreja. Num mundo “afastado de Deus” refloresceu o aspecto carismático da vida da Igreja representado pelos Movimentos e pelas novas Comunidades. Certamente o crescimento de um novo elemento na família provoca dificuldades, tensões, mas esta estação carismática levou a um florescimento da Igreja de maneira mais rica e complexa, a um alargamento da família e, por isso, a um intercâmbio de maior amor. A Igreja entra com simpatia nos caminhos de um mundo que parece afastado de Deus. Cristãos comuns mas radicados no carisma do apostolado entram na vida quotidiana do mundo através da palavra, do testemunho e dos comportamentos”.

Chiara Lubich, fundadora dos Focolares, confirma a beleza dos dons do Espírito: “A Igreja é um imenso jardim, onde exalam perfume pequenos canteiros de flores, as mais raras e as mais comuns, as mais ricas e as mais simples. São as famílias e as Ordens religiosas, são os Movimentos que têm uma dupla missão: reconstituir, no tempo em que vivem, a vida das primitivas comunidades cristãs; recordar ao mundo, com a sua existência, uma palavra de Jesus, um Seu modo de agir, um facto da Sua vida, porque aquele tempo tem necessidade especial de que alguém o repita. São modos diferentes de vida cristã, mas sempre autêntica e íntegra; são homens e mulheres que, como especialistas do Evangelho, oferecem ao mundo os remédios espirituais”.

Todos aqueles que na Igreja querem ser fiéis a Deus são capazes de reconhecer e acolher com gratidão os dons que Ele oferece ao nosso tempo. No mesmo discurso aos Bispos, o Papa exorta-os a valorizarem tais dons e a ajudarem a inserirem-se na comunhão eclesial: “Assim, por um lado, devemos sentir a responsabilidade de aceitar estes impulsos que são dons para a Igreja e lhe dão nova vitalidade, mas, por outro, devemos também ajudar os movimentos a encontrarem a estrada justa, com correcções feitas com compreensão – aquela compreensão espiritual e humana que sabe unir guia, gratidão e uma certa abertura e disponibilidade para aceitar aprender”.

Oxalá nenhum membro da Igreja despreze os variados dons que o Espírito distribuiu e estão presentes nos movimentos e novas comunidades. Tais carismas constituem um precioso impulso para a renovação eclesial e, diz Bento XVI, “para o anúncio e testemunho do Evangelho da esperança e da caridade em cada canto da terra”. Com eles, todos os fiéis, leigos, religiosos, sacerdotes e bispos, podem beneficiar pessoal e pastoralmente.

Padre Jorge Guarda
In: Canção Nova

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