Há pelo menos dois cânticos cujo refrão menciona a Igreja como “povo sacerdotal”. Num esta característica está associada à afirmação dos fiéis como “pedras vivas do templo do Senhor”. E fala deste “templo” chamando-lhe “Igreja santa de Deus”. No outro, a Igreja é referida como “povo de reis, assembleia santa, povo sacerdotal, povo de Deus” e é convidada a bendizer o seu Senhor. A qualidade sacerdotal está associada num e noutro caso ao culto prestado a Deus e à acção de louvor pelo que Ele é e pelas suas obras admiráveis que enchem de júbilo os seus filhos.
Pode parecer estranho, mas é verdade: na Igreja, todos os fiéis são sacerdotes e como tal devem viver e agir. Isto quer dizer que receberam a graça e o convite a aproximarem-se de Deus e a viverem, pessoal e comunitariamente, em permanente comunhão com Ele. Não apenas quando rezam, participam na missa ou pensam em Deus. Sempre, todos os dias e durante o dia todo, façam o que fizerem e onde quer que estejam. Trata-se, na verdade, de acolher o amor incondicional de Deus e viver a relação filial com Ele, mediante Cristo e animados pelo Espírito Santo.
O modelo é Jesus Cristo. É também n’Ele que cada cristão encontra ajuda para viver o seu sacerdócio baptismal. A Carta aos Hebreus, que desenvolve amplamente o sacerdócio de Cristo, explicitando a diferença radical em relação ao sacerdócio como era entendido e exercido até então, exorta os cristãos a considerarem Jesus “como o Sumo Sacerdote da fé” que professam (3,1). Ele derramou o seu sangue e “ofereceu-se a si mesmo a Deus”. Assim, aproximou de Deus os homens (7,25), introduziu-os na relação filial com Ele e ajuda-os na sua caminhada para a morada eterna, a fim de que em tudo obedeçam a Deus e levem uma vida santa. Este é o culto verdadeiro que prestam ao Deus vivo.
Viver como sacerdote, nesta grande dignidade concedida a todos os baptizados, significa, antes de mais, reconhecer e aceitar Deus na própria vida. É saber-se amado imensamente por Deus, confiar n’Ele em todas as circunstâncias e orientar-se por Ele nas opções e caminhos da vida. Nesta relação, o cristão encontra em tudo sinais do amor de Deus e apelos a amá-lo sempre mais, numa adesão generosa à vocação à santidade, a realizar em si de modo sempre mais pleno a imagem e semelhança de Deus. O caminho é o empenho por imitar Jesus, aprendendo com Ele a viver. A ajuda infalível é o Espírito Santo, como guia e mestre interior. O mesmo Espírito impele também à relação e à comunhão com os demais cristãos; e concede dons especiais com que enriquece o espírito e a personalidade de cada cristão, tornando-o apto para as boas obras e capaz de enriquecer e colaborar na comunidade cristã.
Cada cristão vive o sacerdócio baptismal também quando participa na Eucaristia e nos demais sacramentos. Participa! Nas celebrações, todos os fiéis são chamados a tomar parte activa e não apenas a assistir a uma acção que outros realizam. Esta é uma mudança recente a que muitos ainda não aderiram. A participação faz-se com a atitude interior de fé, de amor a Deus, de entrega de si mesmo e de adesão. Escutam activamente, rezam e cantam. Entregam ofertas, saúdam os irmãos e interessam-se uns pelos outros. Comungam do corpo de Cristo. E saem com a missão de iluminar e dar novo sabor à vida de cada dia com a graça de Deus, tanto no ambiente familiar como no trabalho e na vida social. Assim toda a sua vida se torna santa e agradável a Deus. E eles orientam para Ele a vida do mundo.
Nesta relação sacerdotal dos fiéis, quer na vida de todos os dias quer nas celebrações litúrgicas e na oração, aqueles que receberam a missão de exercer o ministério sacerdotal, os padres (chamados também presbíteros), pelo seu poder sagrado, formam e conduzem o povo sacerdotal e os seus membros, realizam o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferecem-no a Deus em nome de todo o povo (cf LG 10). Deus comunica os seus dons aos fiéis quer directamente quer mediante os ministros sagrados. Estes são muito importantes para o serviço do povo de Deus, mas não são tudo. Há graças de Deus que são concedidas aos fiéis sem passarem pelas mãos dos sacerdotes ministros. Os fiéis podem e devem também cultivar uma relação pessoal com Deus sem estarem dependentes dos ministros sagrados, embora em alguns aspectos não possam passar sem o serviço sacerdotal.
Padre Jorge Guarda/Canção Nova
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