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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os passos de um aventureiro (parte 1)


Dia 9 de junho se comemora o Beato José de Anchieta. Conhecer sua história é algo que alegra o coração. Por isso farei tres postagens sobre esse homem de Deus:

A saga do Padre Anchieta, o missionário religioso que há quatro séculos enfrentou tempestades, onça e até canibais para catequizar os índios brasileiros. (Por Liane Camargo de Almeida Alves)

"Revista Terra, Agosto de 1997, nº 8, edição 64, páginas 31 a 35."

Um litoral de costumeiros naufrágios e guerras corpo a corpo. De cobras peçonhentas que se esgueiravam para dentro das botas e de onças que, à noite, rondavam, famintas, as choças de palha das aldeias. De índios comedores de carne humana e homens de poucas leis que sangravam pelas bandeiras inimigas de Portugal e da França. Foi essa terra de aventuras e riscos que um adolescente magrinho de olhos azuis criado sob mimos e cuidados em Tenerife, no domínio espanhol das Ilhas Canárias, pisou pela primeira vez há mais de 400 anos. Sua missão: “caçar almas e servir a Deus”.

Com a serenidade com que escrevia poemas, Anchieta tratava os índios. Quando ameaçavam devorá-lo, dizia apenas que não era a hora.

“Oh Virgem, glória primeira da cãs de Sião! O coração me impele a visitar teu santuário, a lançar um murmúrio junto aos santos umbrais, a ver se abres a este pobrezinho as tuas portas, a ver se um cantinho, embora minúsculo de tua habitação, me dá guarida sequer por um instante.” José Anchieta

A aventura fervilhava no sangue dos Anchieta. A família daquele jovem franzino que chegava ao Novo Mundo era de guerreiros aguerridos. Um de seus irmãos defendeu o estandarte dos Tércios de Flandres, que lutavam até a morte pela unidade religiosa nos campos da Espanha. Outro, missionário, adentrou pelas terras ao norte do Rio Grande, hoje território norte-americano, seu primo o antecedeu nas missões jesuíticas ao Brasil.

José, por tradição, era destinado a ser soldado. Mas seu pai, vendo o menino acanhado e versejando poesias em latim já aos nove anos de idade, reconheceu que ele não manifestava a mínima aptidão para a carreira militar. Decidiu matriculá-lo no Colégio das Artes da Companhia de Jesus em Portugal. A disciplina e a noção do dever dos jesuítas – Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia, era, ele sim, um militar – deveria bastar à formação do garoto. Não sendo soldado de armas, José de Anchieta seria soldado da fé.

O garoto não frustraria os anseios de seu pai. Pregando em terras distantes, onde os relatos de seus milagres se multiplicavam (*), ele ainda pode vir a ser canonizado. Seria a culminação de um percurso religioso que começou aos 14 anos, quando foi para o colégio em Coimbra.
Tinha tanta facilidade em compor versos em latim quanto problemas por sua fraca saúde, que necessitava sempre de cuidados. Alguns biógrafos dizem que sofria de dores na coluna vertebral e que, ao tornar-se noviço, já andava arqueado. Outros garantem que uma escada da biblioteca do colégio caiu-lhe nas costas e, com o correr dos anos, as conseqüências do acidente o deixaram quase corcunda. Foi para aliviar tantos padecimentos, que seus superiores conjecturaram sob a viabilidade de mandá-lo para um clima ameno – o das Índias brasílicas, como era conhecido o Brasil.

Servir a Deus no Novo Mundo era o sonho dos jovens religiosos da Companhia de Jesus, e José aceitou a ordem com a determinação dos que cumprem uma missão divina. Tinha 19 anos de idade quando chegou a Salvador, na Bahia, depois de dois meses e meio de viagem, em 13 de julho de 1553.

Ficou ali por pouquíssimo tempo. Manoel da Nóbrega, vice-provincial da capitania de São Vicente, onde se encontrava a pequena aldeia de Piratininga, precisava de sua ajuda. Ele sabia da sua competência em ler e escrever, e os jesuítas necessitavam urgentemente de tradutores e intérpretes para falar o tupi, língua dos índios do litoral brasileiro. Mais dois meses de viagem o aguardavam para chegar da Bahia ao planalto paulista. Um percurso que, mais do que a travessia do Atlântico em um galeão, fundou uma nova etapa na vida de José: a da aventura.

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(*) Os milagres do irmão José
Anchieta foi considerado santo ainda em vida. São numerosos os testemunhos de sua levitação durante êxtases místicos. Afirmam também que multiplicou alimentos, que comandava os peixes no mar – os índios também o chamavam de “o senhor da pesca” – ou mesmo que podia conter tempestades. Como Francisco de Assis, falava mansamente aos animais selvagens e houve quem disse que ele conseguiu ficar até meia hora no fundo de um rio dentro de uma canoa naufragada. Por essa fama, já em 1617, o jesuíta Pero Rodrigues foi nomeado para escrever sua biografia. Como muitos dos relatos eram apenas de testemunhas oculares e Roma precisaria de provas, de “um milagre de primeira ordem”, para incluir Anchieta entre os seus 2 500 santos, o processo se arrastou durante séculos. Só em 1980 José foi honrado com a beatificação. Hoje, o padre Roque Schneider, vice-postulador do processo de canonização de Anchieta, acredita que “Roma vê com bons olhos a inclusão dele entre os santos da Igreja”.

Continua na próxima postagem...

Enviado por e-mail por Alex A. Borges/ blog Almas Castelos (cortesia)

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