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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Os passos de um aventureiro (parte 3)


Com essa postagem finalizo o tema sobre o Beato José de Anchieta:

A saga do Padre Anchieta, o missionário religioso que há quatro séculos enfrentou tempestades, onça e até canibais para catequizar os índios brasileiros (Por Liane Camargo de Almeida Alves)

“Revista Terra, Agosto de 1997, nº 8, edição 64, páginas 31 a 35.”

Ele dormia só quatro a cinco horas por noite, de roupa e sem lençóis, pronto para se levantar se fosse preciso. Ensinava gramática em três classes diferentes, subia e descia montanhas para batizar ou catequizar e freqüentemente jejuava. Sua prontidão para levantar no caso de um imprevisto fazia sentido. Ele viu Piratininga ser atacada pelos tupis numa encarniçada luta que durou dois dias.

Enquanto as mulheres e crianças se recolheram à igreja em vigília permanente, os jesuítas cuidavam dos mortos e feridos com ervas medicinais indígenas plantadas ao lado das cercas do colégio. Mas, com a ajuda dos índios convertidos, a vila resistiu e os tupis acabaram fugindo.

Fora esses sustos eventuais, a aldeia de Piratininga florescia. José se aplicava em escrever divertidas peças de teatro que encenava para os indígenas e a formular a gramática “da língua mais usada na costa do Brasil”, o tupi-guarani, que seria publicada em Coimbra, em 1595. Era a primeira gramática desde os gregos antigos, escrita por um ocidental, que não se baseava nas regras do latim.

Naquele momento, não passava pela cabeça dos colonizadores portugueses serem eles os intrusos e invasores das terras indígenas. Os jesuítas estavam ali para salvar aqueles homens da barbárie e reintegrá-los ao reino de Deus. Foi essa missão que o levou, junto com Manoel da Nóbrega, à experiência talvez mais dramática e definitiva de sua vida. Aos 30 anos, Anchieta rumou para Iperoig, hoje Ubatuba, em São Paulo, para negociar com os bravios tamoios, aliados dos franceses.

Os índios, defendendo seu território, atacavam as aldeias portuguesas do litoral e os prisioneiros eram simplesmente devorados.

Ele passou dois meses numa choça de palha tentando a paz e uma troca de reféns. Quando as negociações chegavam a um impasse, as ameaças de morte começavam. Finalmente Manoel da Nóbrega, doente e coberto de chagas, seguiu para o Rio para enviar os prisioneiros. José se candidatou a ficar como refém.

O cativeiro foi uma dura prova para Anchieta. Ali, além de fome, frio e humilhações, pode ter passado pelo crivo da maior tentação: a da carne. Aos prisioneiros que iam ser devorados, os tamoios tinham por costume oferecer a mais bela jovem da tribo. O jesuíta havia feito o voto de castidade, ainda em Coimbra, aos 17 anos. E seus biógrafos dizem que a ele foi fiel a vida inteira.

Talvez para fugir das tentações, José escreveu na areia de Iperoig as principais estrofes dos 5786 versos de um poema em latim contando a história de Maria. E ganhou, aos poucos, a admiração dos tamoios por sua coragem e estranhos costumes. Quando eles ameaçavam devorá-lo, José retrucava com suavidade:

“Ainda não é chegado o momento”. E dizia a si mesmo, como contou depois, que primeiro deveria terminar o poema à Virgem. Outros relatos asseguram que sua facilidade em levitar e a proximidade com os pássaros, que o rodeavam constantemente, teria assustado os tamoios, que o libertaram finalmente, depois de assegurada a paz.

Anchieta, humilde, minimizava seus feitos. Quando lhe fizeram notar que os pássaros o cercavam, ele respondeu que eles também costumavam voar sobre dejetos. Talvez tenha sido essa subserviente simplicidade que lhe rendeu tamanho respeito entre os índios. Quando morreu, em 9 de julho de 1597, aos 63 anos, na aldeia de Reritiba (hoje Anchieta), no Espírito Santo, por ele fundada, os índios disputaram a honra de carregar seu corpo até a Igreja de São Tiago. E retrucava, com a mesma suavidade do bom irmão, aos que queriam substituí-los na tarefa: “Não pesa, não pesa”.

Enviado por e-mail por Alex A. Borges/blog Almas Castelos

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