segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Edith Stein
Como Etty Hillesum, de que falei no artigo anterior, outra judia, Edith Stein, foi levada para o campo de concentração de Westerbork, na Holanda, e depois para Auzchwitz. Possivelmente, estas duas mulheres ter-se-ão cruzado na mesma prisão, mas sem se conhecerem. Ambas encararam a morte com grande liberdade e como acto de fé e de amor, em favor da humanidade.
Edith Stein nasceu de uma família judia em 1891, na Alemanha. A mãe era profundamente religiosa e caritativa. Após a morte precoce do marido, assumiu a gestão do comércio de madeiras em que ele trabalhava. Edith, dotada de grande inteligência e de insaciável paixão pela verdade, estudou e formou-se em filosofia, tendo sido aluna de notáveis mestres do pensamento filosófico do século XX. Foi assistente e professora de filosofia e de outras disciplinas em várias escolas e academias. Tendo descoberto a verdade da fé cristã, converteu-se e foi baptizada na Igreja Católica, em 1922. Continuou a ensinar, cultivou com grande interesse a vida espiritual, frequentando mosteiros e sendo acompanhada por um director espiritual. Percorreu os países de língua alemã para fazer conferências em múltiplos lugares aonde foi chamada. Em 1934, decidiu entrar no carmelo de Colónia na Alemanha. Na sua tomada de hábito, participam muitos dos seus amigos intelectuais. Faz a profissão religiosa perpétua em 1938. Com o início da perseguição aos judeus, mudou-se para o carmelo de Echt, na Holanda. É aí que a polícia nazi a vai buscar, em Agosto de 1942, juntamente com a sua irmã, também católica e carmelita, levando-as para o campo de concentração de Westerbork, de onde poucos dias depois são conduzidas à morte em Auschwitz.
Se a busca da verdade foi a grande paixão da sua vida, não o foi menos a prática do amor. Viveu-o, antes de mais, em relação à família e aos seus muitos amigos, que cultiva com visitas e cartas. Quando se converteu à fé católica, foi pessoalmente comunicar o facto à mãe, que recebeu a notícia com lágrimas de comoção e desgosto. Mas a filha, quando ia a casa, não deixava de acompanhar a mãe à sinagoga para celebrar alguma festa judaica.
Edith gostava de fazer bem aos seus semelhantes. Com as companheiras, ajudava-as nos estudos. Como professora, além das explicações, era procurada também como confidente e conselheira por alunas e colegas que passavam por fases de angústia espiritual. Ajudava também quem precisava de roupa, oferecendo da sua. Durante a primeira grande guerra mundial, ofereceu-se para ir como enfermeira auxiliar para os campos de batalha a fim de cuidar dos feridos, fazendo-o com uma entrega generosa e abnegada. Numa determinada altura, participou activamente na acção política como membro do partido democrático. No Carmelo estava sempre disposta a ajudar as outras irmãs, pondo ao serviço delas todas as suas capacidades. A partir da união com Cristo, aprendeu a amar, a estar disponível para atender os outros e viver para eles em todo o momento.
Encara a sua vida e a sua vocação como modo de amar a Deus e de corresponder à santidade a que o ser humano está chamado. “A santidade – afirma – é a resposta ao amor de Deus experimentado de maneira sumamente íntima, o intento de corresponder a esse amor com um amor recíproco”. E sobre a sua vocação de contemplativa, explica a um amigo que a não compreendia: “Cremos que agrada a Deus escolher um pequeno grupo de pessoas que participem de maneira especialmente íntima na vida divina. Não sabemos porque razão Ele faz esta eleição. Desde já lhe digo que não se deve à dignidade da pessoa e aos méritos próprios. Por isso, a graça da vocação não nos torna orgulhosos, mas modestos e agradecidos. A nossa tarefa consiste em amar e servir, porque Deus jamais abandona o mundo criado por Ele, e sobretudo ama muito os homens”.
Quando se encontrava no campo de concentração, tratou das mães desesperadas e abandonadas à sua sorte, limpou e lavou as crianças, consolou-as. Quando alguém lhe falou em procurar mover influências para a salvar da morte, rejeitou, dizendo: “Seria injusto que pudesse tirar alguma vantagem do facto de estar baptizada. Se não compartilhasse a sorte dos demais, a minha vida ficaria como aniquilada…”. Assim encara a morte em atitude de solidariedade com o seu povo judeu. Esta entrega e a sua missão relaciona-se também com o nome de religiosa que escolheu, Teresa Benedita da Cruz. A este respeito escreveu: “Ao pé da cruz, entendi o destino do povo de Deus, que já então começava a anunciar-se. Eu pensava que aqueles que entenderam que esse destino era a cruz de Cristo, deviam carregá-la sobre si em nome de todos”. É nesta atitude de amor, imitando a Cristo e unindo-se ao seu sacrifício para salvar os homens que Teresa Benedita da Cruz aceita a morte na câmara de gás de Auschwitz, dando com o seu martírio a maior prova de amor a Deus e aos homens.
fonte: Canção Nova
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