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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pequenino rebanho


É frequente hoje, nas comunidades e grupos cristãos, ouvir o desabafo: “somos tão poucos, sempre os mesmos”. Nestas palavras transparece desalento e impotência. Estes sentimentos são ainda reforçados pelo ambiente de indiferença e senão mesmo de hostilidade que na sociedade se nota contra a Igreja Católica. A agravar a situação vem ainda a humilhação de que ela tem sido alvo por causa da doutrina incómoda que ensina e dos escândalos de pedofilia e outros desmandos de alguns dos seus membros.

Nesta situação, soam espantosas as palavras de Jesus aos discípulos: “Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). Eles eram poucos, pobres, simples, sem forças nem meios adequados para fazer face ao mundo. Jesus encoraja-os, garantindo-lhes que são amados pelo Pai celeste, o qual decidiu fazê-los participar do Seu Reino. Este Reino significa a presença e a acção divina naqueles que acreditam e estão disponíveis para cumprirem a vontade de Deus e cooperarem com Ele. Dar o Seu reino ao “pequenino rebanho” quer dizer habitar no meio dele, ser a sua vida e força, irradiar a Sua luz e o amor para os oferecer a todos. Daí a exortação à confiança no providência divina que antecede as palavras mencionadas.

A Igreja experimenta hoje, em muitas situações, ser um “pequenino rebanho”: nas pequenas, definhadas e envelhecidas comunidades de fiéis perdidos no mundo secularizado, na impotência para atrair as novas gerações para Cristo, na dificuldade em envolver pessoas nos grupos apostólicos e nos serviços pastorais, na crise de novas vocações sacerdotais e para a vida religiosa… A qualquer sensação de “pequenez” eclesial respondem as palavras e a promessa de Jesus antes citadas. Mas Jesus fez mais: prometeu estar presente em qualquer grupo de seus discípulos, onde quer que se reúnam “dois ou três em seu nome”, e disse que estaria com a sua Igreja “até ao fim dos tempos”. Assim, é no reconhecimento da presença de Cristo e na relação e comunhão estreitas com Ele que a Igreja, a qualquer nível, encontra a sua vida e a sua força.

No Concílio Vaticano II, quando se reviu e se renovou, segundo o espírito das suas origens e do Evangelho, a Igreja compreendeu que devia viver na humildade, pobreza, amor e serviço, segundo o exemplo do seu Senhor: “Assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus «que era de condição divina… despojou-se de si próprio tomando a condição de escravo» (Fil 2, 6-7) e por nós, «sendo rico, fez-se pobre» (2 Cor 8,9): assim também a Igreja, embora necessite dos meios humanos para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para alcançar a glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também com o seu exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai «a evangelizar os pobres, a sarar os contritos de coração» (Lc 4,18), «a procurar e salvar o que perecera» (Lc 19,10). De igual modo, a Igreja abraça com amor todos os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo. Enquanto Cristo «santo, inocente, imaculado» (Heb 7,26), não conheceu o pecado (cfr 2 Cor 5,21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (Heb 2,17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus», anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cfr 1 Cor 11,26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz” (LG 8).

Diz o ditado popular que “há males que vê por bem”. Assim, na consciência do pecado e dos de Deus existentes no seu seio, na perda de influência, prestígio, reconhecimento e apreço por parte do mundo, na diminuição do número dos seus membros e dos que se identificam com ela, no crescimento das dificuldades em cumprir a missão de oferecer aos homens o conhecimento de Cristo de modo a atraí-los para Ele, a Igreja pode redescobrir a verdade sobre si mesma e a força evangélica que lhe permite crescer: o dom do Reino de Deus, isto é, a fé, a esperança e o amor que lhe vêm de Jesus Cristo. Assim viverá de modo mais autêntico e dará testemunho cativante dos bens espirituais de que é portadora.

Fonte: canção nova

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