sábado, 27 de novembro de 2010
DIFICULDADES NA ORAÇÃO
Sono e desânimo
Muitas pessoas nos escreveram sobre este assunto ou telefonaram dizendo que estão na mesma situação. Asism, o texto que segue é de um alma experiente em múltiplas batalhas. Serve de ânimo para todos aqueles que estão tendo dificuldade em rezar, abatidos pelo cansaço, vencidos pelo sono e pelo desânimo, ou que facilmente se justificam por não terem rezado o que deveriam).
Quando alguém conhece um novo grupo… uma outra forma de rezar… aquilo que nos diz como que algo de novo… quando alguém ouve uma pregação importante, que lhe toca o coração… lê um livro que explana ideias importantes e piedosas… quando alguém passa de uma atitude de indiferença ou quase indiferença em matéria religiosa… quando enfim alguém se sente tocado pela graça de Deus de uma forma mais direta e mais íntima… é normal sentir-se tomado pelo fervor e desejar converter toda a gente, rezar horas a fio e estar em todos os lugares onde pode aprender mais a esse respeito.
É normal. É o que acontece a qualquer um de nós nestas circunstâncias.
Então tudo o que se reza é saboroso e vivemos com Deus como que numa lua-de-mel, em que tudo é amor sentido, e em que nada custa o sacrifício, tudo se dá com amor e esse amor ilumina e dulcifica todas as dores.
É frequente também nessas alturas olharmos para outras pessoas que rezam menos, com olhos de crítica. Parece-nos que esses irmãos deviam encetar outra vida como nós e não compreendemos por que é que o não fazem.
Sem darmos por isso começamos a sentirmos num degrau superior àqueles que não rezam, que não são religiosos ou que são de outras religiões. Nós somos os privilegiados no Amor de Deus, e eles são os pobres coitados, aqueles por quem nós temos de rezar, porque senão…
Coitados de nós, tão cegos pela luz ofuscante do nosso amor próprio que tem a desfaçatez de se sentir superior aos irmãos!...
Coitados de nós! Quando assim pensamos precisamos que rezem por nós, para que a verdadeira Luz de Deus nos seja dada e vejamos a nossa soberba espiritual.
Como estamos então parecidos com o fariseu referido por Jesus, que fazia muitos jejuns, rezava e pagava todos os dízimos… e não saiu do templo justificado!
Mas vendo a nossa pobreza espiritual e a nosso desejo de progredir, Deus vem em nosso auxílio e inunda-nos com a Sua Luz, mostrando-nos as nossas falhas, a nossa miséria, que facilmente se deixa dominar por tudo aquilo que ocorre, principalmente pelo amor próprio, que para se esconder toma as formas mais refinadas.
É então que começam as dificuldades, porque nos assustamos com o que vimos em nós e fechamos os olhos, ofuscados com a Luz. Conhecemos então o cansaço, a amarga aridez e as profundas noites espirituais. Mas tudo isso é graça de Deus, que nos quer tirar de sentimentos mais ou menos grosseiros de amor sensível, para a pureza do Seu Amor imensurável.
Conhecemos agora todas as dificuldades que nos acometem nas horas de oração. Umas vezes não nos apetece, e perguntamos onde está afinal aquele amor jovem que possuíamos ainda há pouco tempo… onde está aquele sentimento de felicidade que sentíamos ao rezar… aquela pujança, aquela força que nos levava a rezar horas seguidas… aquele desejo de Deus e de Lhe pertencer… Onde está isso tudo? Para onde foi? Será que existiu alguma vez, ou foi tudo uma ilusão nossa?
Sentimos então aquilo que sentem aqueles que nós acusávamos de não rezarem, de não serem piedosos… Estamos na posição deles, aptos agora para os compreendermos, inundados pela graça inestimável da humilhação perante toda a Corte Celeste.
Ao mesmo tempo, somos joeirados pelo inimigo, que aproveita todos os nossos sinais de fraqueza para fazer alguma maldade e nos tornar o caminho mais difícil. E deixar de rezar é aquilo que ele mais deseja que nós façamos.
Ora a falta de desejo de rezar, o sono, distrações e outras dificuldades, não nos tornam piores, mostram apenas a nossa fraqueza. Mostram apenas que somos capazes de fazer tudo aquilo que censuramos nos outros, se o Senhor não os amparar com graça sensível. Mas a graça sensível, não é a melhor das graças de Deus. É antes das menores graças. Muito maior graça é sentir o desamparo espiritual. Isso é uma graça que Deus dá aos filhos que Ele quer que caminhem, que avancem no caminho estreito de Jesus.
Essas dificuldades, todos os Santos tiveram. Todos se queixaram da sua miséria interior, e não foi por isso que foram menos santos. Todos viram melhor os seus pecados, à medida que iam sendo inundados por mais Luz. Todos eles conheceram aridez e a noite espiritual, à medida que Deus os atraía mais e lhes dava mais graça de suportar a purificação do amor.
Não é o amor sensível que nos faz santos. Não é o desejo de rezar ou rezar sem distrações que nos torna melhores. Tudo isso são doces que Deus dá aos seus filhos mais pequenos, não por serem santos ou melhores que os outros, mas por serem pobrezinhos e não ter outra forma de os atrair dado o estado de miséria em que se encontram. Depois de algum tempo, vai-lhes tirando os doces e dando outra comida mais substancial que lhes permite o desenvolvimento, como a mãe que não dá o seu peito senão à criancinha de colo e aos filhos crescidos dá comida no prato, comida essa que em breve eles terão de comer pela sua mão e mais tarde, que trabalhar para a adquirirem.
Santa Teresinha não compreendia o que era não ter fé. Ela não percebia porque é que algumas pessoas não tinham fé, até que se viu em profunda tentação contra a fé e compreendeu esse problema de que sofrem tantos irmãos. Até à hora da morte ela não vislumbrou fé, mas acreditava no que queria acreditar. E foi assim que se santificou.
Aqui está a chave para entrarmos na resolução dos nossos problemas de oração, de fé ou de qualquer outra virtude que nos custe a praticar.
Como Santa Teresinha, essa grande doutora da Igreja, acreditava no que queria acreditar, nós rezamos, porque queremos rezar. E não nos vamos preocupar com essas dificuldades, porque diante de Deus o que interessa não é o que se sente, mas o que se consente.
Se nos dá o sono, desde que não durmamos de propósito, desde que não tenhamos culpa, aceitamos a nossa miséria, essa humilhação, que nos mostra a nossa pobreza, que nos põe diante dos olhos como somos fracos e agradecemos a Deus que assim não nos deixa ensoberbecer.
E também não nos importemos se nos parece que não sentimos nada. Santa Teresinha também deu este conselho a alguém que lhe expôs essa dificuldade: “Não deixeis de dizer a Jesus que o amais, mesmo que interiormente não o sintais. Diante de Deus, que vos importa?” E ainda: “Não importa que não sintais valor, desde que procedais como se o sentísseis”.
E, quando, apesar de todas as considerações e bons propósitos que fazemos, viermos a cair, saibamos humilhar-nos diante de Deus três vezes Santo, mostrar-Lhe a nossa miséria e dizer-Lhe que queremos continuar com Ele sejam quais forem as dificuldades que ainda vierem.
Muitas mais dificuldades virão, mas se estivermos conscientes da nossa miséria, será Ele que nos socorrerá nos momentos difíceis, mesmo que não demos por isso, mesmo que não sintamos nada. Ele não nos deixará cair, se pusermos a nossa confiança não no que nós sentimos ou no que podemos, mas apenas nEle, sentindo-nos sempre uma pequenina migalha na Sua mão.
Continuemos neste caminho custe o que custar. Havemos de chegar à Pátria não pelo que nós sentimos, mas porque Ele nos ama e morreu por nós.
Não precisamos de sentir o Amor. Precisamos deixar-nos amar por Ele, aceitando todas as situações que o Seu Amor nos quiser colocar, mesmo que tais situações não nos agradem. Ele sabe o que é realmente melhor para nós.
Nós não sabemos nada, senão que ele nos ama e que também O queremos amar.
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OBS: Como viram, estas coisas nos são dadas por Deus para que nos sintamos realmente pequeninos e necessitados. Ai de quem se achar forte neste momento: ele poderá cair e nunca mais levantar. É então hora de nos apegarmos ainda mais em Deus, de nos colocarmos mais aconchegados nos Seus poderosos braços, porque somente assim nós iremos vencer a últimas das grandes batalhas. Que chegará em breve!
E somente quem reza conseguirá manter seu nariz acima do nível da água. Porque a falta de oração nos torna pesados, e facilmente somos vencidos pelo inimigo. E não pensem que ele nos dará sossego: será assim, até o fim!
Mas Jesus venceu antes, e com Ele venceremos também! É só não desistir! Afinal, quem é que vai dar o gostinho de ver satanás rindo da sua cara?
UMA DICA: Não assuma orações demais e lembre que o trabalho diário feito por amor a Deus e aos irmãos é uma das mais poderosas formas de oração. O corpo também precisa de descanso, senão o inimigo se aproveita disso. Acho que este é o caso de alguns dos nossos valentes!
In: blog Recados de Aarão
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