Vou contar-vos uma graciosa lenda persa que exprime uma grande verdade. Deus, assentado no trono excelso de sua glória, chamou um Anjo e disse-lhe:
- Vai àquele jardim, na terra lá em baixo, e traze-me a flor mais bela que encontrares.
O Anjo, mensageiro de Deus, desceu ao jardim e contemplou a variedade e a graça com que milhares de flores ali se misturavam como um mosaico admirável. Viu o minúsculo jasmim ao lado do grande helianto, a dália à sombra da madressilva abraçada ao oleandro; viu a rainha-margarida, a pervinca, a primavera e todas as outras belezas que erguem o seu hosana ao Criador. Mas o seu olhar fixou-se na rainha das flores, a rosa aveludada e odorosa, e disse:
- Esta é, certamente, a flor mais bela. – Colheu-a e voou ao trono do Altíssimo.
- A rosa, – disse Deus, – é o símbolo do amor, doce expressão de um coração ardente. Com a sua formosura atrai os olhares; é suave, perfumada, delicada, mas não é a flor mais bela.
O Anjo voou de novo ao jardim. Não olhou para o cravo, nem para a margarida, nem para a flor-de-lis; não deu atenção ao amor-perfeito nem à tulipa soberba, mas voando pressuroso a um canto escondido do jardim, colheu uma humilde violeta e disse:
- Certamente o símbolo da humildade há de ser a mais bela das flores.
E, retomando o vôo, foi ajoelhar-se aos pés da Majestade suprema.
Deus, tomando a violeta, sentiu-lhe o delicado perfume e disse:
- Sim, é bela a violeta oculta, humilde e pequenina e de tão agradável fragrância. A humildade é a virtude que faz os santos, vence os demônios e opera grandes maravilhas nos corações dos homens. Todavia, não é a mais bela das flores.
O Anjo retornou ao jardim. Fixando o olhar no lírio, ficou encantado com a sua alvura imaculada, seu porte altivo, seu perfume suave. Contemplou-o demoradamente, pensando e dizendo:
- Eis o símbolo da pureza imaculada; esta, sim, deve ser a flor mais bela. Colheu-a e desatou a voar.
Vendo-o, Deus exultou e disse:
- O símbolo da pureza, da pérola mais fúlgida, mais heróica e sublime! Esta, sim, é a mais bela das flores.
E os olhos divinos brilharam de complacência.
Sejmaos puros, simples e belos como os lírios, tal e qual pura, simples e bela é Nossa Mãe do Divino Amor. Só alcançaremos graça diante dos olhos de Deus, se nos acharmos humildes como Nossa Senhora.
(TESOURO DE EXEMPLOS, Volume I – Pe. Francisco Alves, C.SS.R. – Edições Vozes Ltda., Petrópolis, RJ – 2ª. edição, 1960, p. 355)./ADF
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