sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Aviso maternal e convenientíssimo de Nossa Senhora
Haverá algo mais importante nesta vida do que estar preparado para comparecer ao Juízo após a morte, no qual decide-se nosso destino eterno? É natural que Nossa Senhora, Mãe extremosa dos homens, nos ajude na preparação para enfrentarmos tal momento de suprema importância.
Valdis Grinsteins
Muitos anos atrás, um amigo deu-me de presente uma medalhinha com o curioso nome de Nossa Senhora do “aviso”. Fiz o óbvio, ou seja, agradecer a medalha e perguntar-me que aviso era aquele. “Ora, pois”— respondeu-me o descendente de portugueses — “o aviso de que o Sr. vai morrer”.
Levei um primeiro choque, pois, se bem seja verdade que todos vamos morrer, e não sabemos quando, um frio passou-me pela espinha ao pensar que talvez o fato de receber a medalha fosse o aviso da morte. Riu de bom grado o português, quando fiz esse comentário. Certamente seu rosto redondo não parecia o de um mensageiro de fatalidade. “O Sr. parece ateu. Pensa talvez que Nossa Senhora vai avisá-lo sem dar, ao mesmo tempo, uma graça de resignação?”. Isso tranqüilizou-me. Primeiro, porque eu tinha recebido um susto, não uma graça. E depois porque pareceu-me tão óbvio que uma Mãe desse tal aviso da forma mais adequada possível, que fiquei até envergonhado dessa minha reação.
De lá para cá, tenho guardado a medalha e rezado toda noite, na confiança de que Nossa Senhora avisar-me-á para preparar-me, quando chegar a hora mais séria de minha vida.
Histórico peculiar da devoção
Capela Nossa Senhora do Aviso
Em fins do século XVII existia, numa pequenina localidade portuguesa chamada Serapicos, uma capela dedicada a Nossa Senhora do Aviso, que era servida por uma confraria do mesmo nome. A confraria é anterior a 1726, pois nessa data já era enriquecida de indulgências.
Quando foi construída a capela? Nada consta. Sabe-se apenas que ela foi edificada em agradecimento pelos habitantes do povoado, após um deles, que regressava à casa num dia de inverno numa carroça puxada por uma junta de bois, ter sido surpreendido por lobos famintos. O homem aflito implorou o auxílio de Nossa Senhora, e os lobos retiraram-se sem fazer-lhe o menor dano, bem como aos dois animais.
A primitiva capela, danificada pelo tempo, foi substituída por uma nova, no mesmo local, por volta de 1890. Esta encontra-se de pé até hoje.
Curiosamente, não se conseguiu retirar a imagem do local. Em 1840, algumas pessoas tentaram levá-la para o enterro de uma senhora, muito portuguesamente apelidada de Tia Pimparela. Mas, após andarem uns 300 metros, não conseguiam movê-la, devido a seu peso. Estupefatos, os devotos decidiram conduzi-la de volta à capela, o que conseguiram sem dificuldade. Igualmente, habitantes do povoado de Sanceriz pretenderam transportá-la para sua igreja, na calada da noite, sob a alegação de prestarem-lhe um culto mais digno. Mas nem esses robustos habitantes de Sanceriz puderam carregá-la, devido ao inesperado peso que notaram na imagem.
A graça da boa morte
Analisando os relatos de graças recebidas pelos devotos da imagem, encontramos grande variedade delas: curas de doenças, mudos que começam a falar, proteção contra ataques de lobos etc. Mas os relatos que mais chamam a atenção são os de pessoas avisadas da morte próxima. Transcrevemos abaixo dois relatos relativamente recentes, recolhidos por um sacerdote da região:
A Sra. Dona Maria Rufina Baptista, de 84 anos de idade, grande devota de Nossa Senhora do Aviso, quando estava em seu leito de dor, esperando a hora da partida, três dias antes de sua morte, pediu para mandar vir os filhos da França, pois estava à beira da morte. Quando os filhos chegaram, disse-lhes: “Estava à vossa espera. Agora já posso partir. Irei só amanhã, como me avisou Nossa Senhora do Aviso. Isto foi no dia 17 de março de 1986, e ela morreu no dia 18 às 21 horas.” 1
Em 1988, no curso duma peregrinação à capela, ao ser contada a crença profundamente arraigada no povo da região, de que aqueles que levam a Medalha de Nossa Senhora do Aviso e rezam a ela são avisados três dias antes da morte e ajudados a bem morrer, uma senhora presente deu este testemunho: “É verdade o que acabais de ouvir, e posso atestá-lo com dois fatos ocorridos em minha família. Sou viúva, o meu marido foi seminarista. Tendo saído do seminário, casou-se e sempre foi católico fervoroso e exemplar chefe de família. Trazia a medalha de Nossa Senhora do Aviso. Três dias antes de sua morte, chamou-me e disse: “Eu suponho que estou em graça de Deus, mas quero preparar-me melhor, pois vou morrer brevemente. Nossa Senhora já me avisou. Quero que o Sr. Prior me venha confessar e me dê todos os sacramentos”. Passados três dias, morreu santamente. Igualmente meu filho de 15 anos disse-me: “Mamãe, é inútil querer curar-me. Deus me quer para Si. Nossa Senhora já me avisou que vou morrer. Mande chamar o Sr. Prior”. Eu respondi-lhe: “Meu filho, sabes a pena que sinto com tua morte, mas se é essa a vontade de Deus, que ela se faça”. Passados poucos dias, meu filho morreu também santamente, dizendo-me antes, quando lhe perguntei como sabia que ia morrer, o seguinte: “Mamãe, Nossa Senhora avisou-me, mas o modo como me avisou, não o posso dizer, é segredo”.2
Devoção muito confortante
Meditando sobre essa devoção, encontramos vários fatos dignos de consideração. O primeiro é que ela nasceu de um episódio aparentemente não relacionado com o aviso da morte, como é salvar um carreteiro e seus bois dos lobos. Mas, na realidade, é bom ressaltar que na hora da morte o demônio age como um lobo faminto, ansioso em apanhar suas vítimas. A Sagrada Escritura compara o demônio tentador a uma fera rugindo a nosso redor: “Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pe, 5-8) 3. E se as tentações nessa vida podem ser terríveis, não serão ainda mais violentas as últimas tentações antes da morte, nas quais se joga tudo e para sempre?
Isto nos leva a uma segunda consideração. Dada a seriedade dessa hora, teria sentido que Nossa Senhora, tendo nos ajudado ao longo de toda nossa vida, justamente nesse momento decisivo não nos avisasse para comparecermos eximiamente bem preparados ante seu Divino Filho, que deve ser nosso Juiz? Assim como uma boa mãe ajuda seu filho na escola durante todo o ano, e chegando a época das provas finais ela extrema sua dedicação maternal, preocupação e ajuda, assim também Nossa Senhora atua nesse momento culminante da vida do homem.
Finalmente, chama a atenção a graça de tranqüilidade que vem junto ao aviso de morte próxima. Não aparecem nos relatos das pessoas que recebem o aviso cenas de pânicos, revoltas ou desespero, que poderiam ocorrer ante uma situação tão dramática, como se pode atestar quotidianamente num hospital. Pelo contrário, nota-se uma conformidade com a vontade de Deus, que é bem um sinal de Nossa Senhora. Não seria razoável Nossa Senhora nos avisar o momento de nossa morte e, ao mesmo tempo, não nos ajudar a prepararmo-nos para essa ocasião. Quem poderá fazer uma boa preparação para a morte se está, por exemplo, revoltado diante da possibilidade de ter que abandonar seus filhos em meio às incertezas da vida? Ou de deixar a família numa situação econômica comprometida? Justamente, ao aviso de Nossa Senhora vem associada uma certeza de que, sendo Deus a sabedoria, Ele escolherá, por excelência, o melhor momento para prestarmos conta de nossa vida.
Não conhecemos o futuro, mas Deus sabe.
Notas:
1.Pe. Adérito Augusto Custódio, Nossa Senhora do Aviso, Notas históricas, Bragança, Portugal, 1990, p. 56.
2.Idem, p. 57.
3.Bíblia Sagrada, Ed. Paulinas, 6ª edição, 1953, São Paulo, traduzida da Vulgata pelo Pe. Matos Soares./ADF
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