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sábado, 18 de dezembro de 2010

Entrevista com D. Sebastian Shaw, Bispo Auxiliar de Lahore


LAHORE, Paquistão
O Bispo de Lahore, no Paquistão, D. Sebastian Shaw, esteve em Portugal a convite da Fundação AIS para dar a conhecer as dificuldades que as famílias católicas atravessam diariamente num país em que 98% da população é muçulmana. Numa entrevista à Fundação, entre sorrisos e um brilho no olhar, revelou como se sustenta uma fé que tem de ser mais forte a cada dia.

Qual é o principal objectivo da sua visita a Portugal?

D. Sebastian Shaw: A Fundação AIS celebra este ano 15 anos de existência em Portugal e a directora da instituição, Catarina Martins, convidou-me para vir a Portugal partilhar algumas experiências e explicar a situação no Paquistão, visto que este ano a campanha de Natal da AIS vai ser a favor do meu país. E eu estou muito, muito agradecido por toda a ajuda que temos recebido do país e da Fundação. Efectivamente precisamos da vossa ajuda, porque como sabem o Paquistão atravessa tempos difíceis. Não só por causa das cheias, mas também por causa dos outros grupos religiosos fundamentalistas, pela situação económica… Neste tempo de crise, precisamos da vossa ajuda!

Quais são as necessidades concretas da Igreja Católica no Paquistão?

D. Sebastian Shaw: No nosso país, as minorias, para além de serem minorias muito, muito pequenas, são também muito pobres. E os missionários – o Paquistão recebe ajuda de vários grupos missionários de Inglaterra, Holanda, França, Estados Unidos – estão a ficar idosos, visto que os primeiros chegaram ao país em 1933! E o problema é que com todas as dificuldades que o Paquistão atravessa, muitos estão a regressar aos seus países de origem. Portanto, agora precisamos de alimentos – os missionários tinham um papel importante na garantia de dinheiro e alimentos – como leite em pó e óleo alimentar, para as nossas casas de acolhimento, essencialmente. E roupa para as crianças que acolhemos. Porque este tempo de recessão económica internacional está a afectar também a nossa capacidade de ajuda.

Num país em que a comunidade cristã é uma minoria, como é a vida em Igreja? Como é feito o vosso trabalho junto das comunidades?

D. Sebastian Shaw: Para começar, nós trabalhamos separadamente nas nossas comunidades católicas. Se numa cidade há um pequeno bairro de famílias católicas, há também uma escola e uma Igreja para que possamos fazer ali a nossa vida. Mas um facto positivo que deve ser realçado é o de que na vida quotidiana, a convivência [entre católicos ou cristãos e muçulmanos] é perfeitamente pacífica. Em muitos lugares, cristãos e muçulmanos trabalham juntos. Tal como já referi, o problema não é na nossa vida quotidiana. Pode haver problemas se houver alguém mais fundamentalista a trabalhar junto de católicos, mas devo dizer, também, que grande parte dos muçulmanos respeita bastante os católicos. Por exemplo, no Natal muitas vezes felicitamo-nos mutuamente, oferecemos bolos de Natal ou outras coisas que tenhamos preparado (risos).
Nas escolas católicas, por exemplo, ensinamos às crianças os valores do Evangelho, mas sempre tendo em atenção, no entanto, de que a maioria dos alunos, mesmo nas nossas escolas, é muçulmana.
As famílias muçulmanas gostam que os filhos frequentem as escolas católicas, porque o ambiente lá é um ambiente humanitário, e não religioso. As crianças estudam, brincam, correm, gritam… O nosso único objectivo é a educação em si. O mesmo acontece, por exemplo, nos nossos hospitais. Para além de as taxas serem mais baixas, os cuidados são realmente melhores. E o povo muçulmano vai aos nossos hospitais. E isso é algo de que nos orgulhamos muito.

Como é que se lida com o fundamentalismo? O que diz às suas comunidades para fazer perante uma situação de ruptura?

D. Sebastian Shaw: Nós dizemos sempre que não há necessidade de discutir. Para não tentarem uma aproximação apologética. Alertamos sempre as nossas crianças e as famílias com quem trabalhamos para tentarem evitar conversas sobre religião. Não há necessidade, porque às vezes a conversa entra por caminhos muito difíceis de explicar. O melhor é mesmo evitar o assunto e falar, por exemplo, sobre o aumento do preço do petróleo (risos).

De que forma está o Papa Bento XVI, e o Vaticano, a acompanhar esta situação no Paquistão?

D. Sebastian Shaw: As mensagens do Papa são extremamente encorajadoras para nós. Dão-nos muita esperança e fortalece a nossa fé. A figura do Papa, mesmo quando o vemos somente na televisão, dá-nos imensa força. Porque a sua imagem, ou uma imagem do Vaticano, faz-nos efectivamente sentir que estamos todos juntos pelo mesmo ideal. Que somos um! Em termos institucionais, recebemos imensos apoios dos seminários e também da ‘Propaganda Fide’, especialmente a nível material.
Na verdade, e a título de exemplo desta comunhão que sentimos com a Igreja de todo o mundo, e com a da Europa em particular, as celebrações do 13 de Outubro, em Fátima, fazem parte do nosso calendário litúrgico. Todas as Igrejas do Paquistão, de norte a sul, rezaram em comunhão com Fátima, nesse dia. Aliás, em Karachi há uma Igreja, chamada Igreja de Leiria-Fátima, na qual há uma réplica de Nossa Senhora com os três pastorinhos. E até as ovelhas foram replicadas (risos).

Como é que uma família, ou uma pessoa, a título individual, pode ajudar alguém no Paquistão, sem ser através de instituições?

D. Sebastian Shaw: Uma das áreas em que precisamos de ajuda é na da formação. Muitos dos nossos estudantes, de nível superior, têm dificuldades em terminar os seus estudos. Nos nossos hospitais temos médicos a quem falta formação especializada na área da tuberculose, por exemplo, que é uma doença que está a afectar muito o Paquistão novamente. Se eles pudessem vir cá para estudar, com uma bolsa, com algum financiamento, seria óptimo. Ou por exemplo, qualquer doação na ordem dos 5000, 2000 ou até 1000 euros por ano já permitiria que um estudante paquistanês fizesse o seu mestrado, no Paquistão, sendo que ele saberia sempre que estava a ser ajudado por uma família portuguesa. E isso permitiria dar-lhe uma formação superior.
Na área catequética também estamos a precisar de formação. Não sei se a solução passa pela possibilidade de receberem alguém cá ou de ir alguém ao Paquistão para poder dar formação durante um mês ou dois. Porque acreditamos que se os católicos no Paquistão tiverem acesso a uma formação superior – o que é difícil porque a educação é cara –, vamos acabar por ter mais voz no país.

Qual a mensagem que gostaria de deixar ao povo português, com a sua visita?

D. Sebastian Shaw: Quero agradecer ao Governo, que nos ajudou muito na altura das cheias, mas também à Fundação AIS e a todos os seus benfeitores, que tanto nos têm apoiado. Rezo para que Portugal se torne um país próspero e grande, com uma fé fortalecida.
fonte: FAIQS

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