EU VOS AMO! VÓS SOIS A MINHA VIDA.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mãe vem cá!


egoísta, ao ouvir o que a Mãe dissera sentiu que algo tinha sido tocado dentro dela. Revolta-se! Não, não acredito. Isto é só para nos tapar os olhos. Não é do nosso tempo, não sente como nós os jovens. Agora para mim quero tudo, tudo. Pela sua cabeça passaram dezenas de coisas que sonhava ter: vestidos, meias, um relógio de pulso. Que sonhou ela! Andou nisto vários dias. Depois foi vencida por uma ideia que dentro dela germinou. Abriu os olhos e olhou à sua volta. A irmãzita mais nova precisava de um casaco, umas botas, pois o frio começava a apertar e os pais não tinham possibilidade de lhos dar tão cedo. No pouco que conseguira amealhar não tocaria e iria oferecer-se para fazer pequenos trabalhos pela vizinhança. Assim aumentaria o que tinha amealhado, podendo então, comprar uma das coisas de que a irmã necessitava.
(- Custa-me tanto, tanto lavar a louça com este frio e com as mãos como as tenho. Mas só assim poderei Viver este Natal).
(- Custa-me tanto aturar estes miúdos sem perder a cabeça e dar-lhe uns tabefes. Mas só assim, sentirei este Natal).
(- Custa-me tanto prestar atenção a esta senhora tão velhinha, repetindo-se tantas vezes. Mas só assim poderei preparar-me para este Natal).
(- Custa-me tanto fazer estas bainhas e chulear estas saias. Mas só assim poderei viver intensamente este Natal).
Uma tarde foi apanhada por um repórter. - Diz-me lá o que é para ti o Natal?
- É dar-me.
- Que queres dizer com isso?
- É fazer alguma coisa pelos outros, vendo neles Jesus.
- Obrigado.
E o repórter ficou a pensar quão fácil era dizer e quão difícil era fazer. No entanto, as respostas de Ângela não lhe saiam do pensamento, perseguiam-no até. Começou a indagar tudo o que dizia respeito a Ângela. Ficou deveras admirado ao saber do muito que Ângela fazia em relação aos outros. Naquele bairro, todos estimavam deveras Ângela. A todos ela ajudava, sempre sorridente, bem-disposta, sem nunca se cansar, sem nunca pensar nela.
Uma noite, regressado do jornal, já deitado, interrogou-se: - O que é o Natal para mim? Uma simples festa, onde só conta o exterior. Procurou lugares onde há muito de tudo o que não conta: barulho, vinho, jogos, mulheres. É aí que gasto tudo o que tenho. Nunca a solidão lhe foi tão pesada. Julgou abafar. Há quanto tempo não entro numa Igreja, não louvo o Senhor? Começou a formar-se-lhe uma ideia. – Não, assim não. O que se passará comigo. Como vou ser gozado pelos meus colegas. Querem lá ver que agora “serei a ovelha perdida que volta ao redil?”
Véspera de Natal. Muitas lojas visitou ele. E que prendas lindas comprou. Que leve se sentiu e que alegria! Sentia-se outro, muito diferente, muito melhor.
Não seriam ainda 23 horas e já estava com o carro estacionado em frente da casa de Ângela, aguardando. Viu-os sair de casa e seguiu aquela família, que lhe parecia tão unida, onde reinava o verdadeiro amor. De longe, mesmo ao fundo da Igreja, participou na Missa. Toda a sua vida lhe passou pela mente. Havia coisas boas, mas havia-as também tão más! Mas, o Senhor é Pai, desde que eu queira.
Saiu primeiro e esperou pela família de Ângela à porta de casa. Ângela reconheceu-o, dizendo aos pais que iriam com certeza ser entrevistados. O repórter apresentou-se como amigo, como alguém que pensa nos outros como Irmãos. Estou em dívida para contigo, Amiguinha, pois com as respostas que me deste e com o que verifiquei a teu respeito, fizeste-me dar uma grande reviravolta. Não levem a mal, mas desejo compartilhar convosco o meu Natal. Vão entrando, pois esqueci-me de algo no carro. Quando entrou na sala – onde havia um lindo presépio, uma pequena árvore de Natal e uma modesta ceia – estava Ângela a entregar lembranças aos pais e aos irmãos. Coisas muito simples: um lencinho para o pai limpar os óculos, uma pega para a mãe não queimar as mãos, brinquedos de feira para os irmãos. Só para a mais pequenina tinha comprado umas botinhas, gastando todas as economias. Nem sequer tinha pensado nela, mas que alegria sentia ao ver os outros felizes!
O repórter entrou nesta altura, com os braços cheios de embrulhos, que foi distribuindo por cada um dos membros daquela família.
Na sala reinou a confusão por instantes, pois ninguém compreendia bem o que se estava a passar. Até a mesa parecia diferente, pois estava cheia de coisas boas.
Ângela foi a última a abrir o presente. Quase perdeu a fala. Quando voltou a si e conseguiu falar disse: - Houve engano, isto não pode ser para mim.
- Escolhi-o para ti.
- Mas, como soube que era isto que eu tanto desejava?
- Vi-te, uma vez especada numa montra, olhando para muitos relógios expostos. Escolhi o que me pareceu ser mais bonito.
Ângela, espontaneamente, abeirou-se dele e beijo-o com toda a ternura do seu coração jovem.
Que belo Natal aquele! Pareceu-lhe o melhor das suas vidas.
Porquê?
Porque afinal o Natal é a mais bela Aventura de todos os tempos: A Aventura do Amor de Deus que fez de nós seus Filhos e nos manda que nos amemos uns aos outros.


Este, foi o primeiro Natal, que passámos longe de todo o resto da família, o primeiro Natal em Portugal, em Braga. Trinta e um anos passaram…
É uma história real (claro que também tem alguma ficção - o
repórter). São "pedaços” de recordações que guardo no meu coração...
in facebook (cotesia da minha amiga Maria José)

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