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sábado, 11 de dezembro de 2010

TRANSPARÊNCIA DO MISTÉRIO DA IGREJA


A celebração do dia da vida consagrada pôs em realce o dom que é para a Igreja a forma de vida e o testemunho dos homens e mulheres cristãs que corresponderam fiel e generosamente ao chamamento para se entregarem totalmente a Deus e viverem plenamente ao seu serviço, à imitação de Cristo, na obediência, castidade e pobreza. Desse modo desenvolvem de um modo especial a graça da vida cristã recebida pelos sacramentos do Baptismo, Confirmação e Eucaristia. E unem-se de modo especial à Igreja ao seu mistério, contribuindo para o bem de toda ela (cf LG 44). A maioria dos consagrados está na condição de religioso ou religiosa, mas outros permanecem como fiéis leigos, vivendo de modo discreto a sua entrega total a Deus.

Que significado tem para a Igreja esta vocação? Ela é transparência do mistério da Igreja, isto é, da sua estreita ligação a Deus. Participa por isso da vida divina e testemunha o amor e a generosidade divinas em relação aos homens. São três os aspectos característicos da vida consagrada: ela é sinal do absoluto de Deus na vida humana, testemunho da fraternidade cristã e empenho nas boas obras. Como a vida consagrada se incarna em diferentes modalidades ou formas de vida assim umas manifestam mais o primeiro aspecto, outras o segundo e outras o terceiro.

A primeira e fundamental característica é testemunhar o absoluto de Deus, o “só Deus basta”, de Santa Teresa de Ávila. O cristão que descobre a vocação para uma especial consagração vislumbra uma grandeza em Deus, encontra nele o tesouro mais preciso da sua vida, o bem maior, o amor mais pleno, a possibilidade de uma fecundidade mais abundante que se entrega a Ele com a mesma ou maior paixão que uma amante ao seu amado. Deixa então espantado quem observa a sua entrega resoluta ou a sua vida encantada por Deus. A vida dos consagrados é um sinal forte do mistério de Deus. Nestas pessoas e através delas a Igreja é constantemente lembrada a manter acesa e cintilante a chama do amor que a une ao seu Senhor, à Trindade Santíssima. Estas pessoas são uma interrogação e interpelação constante para o mundo, que não as compreende nas suas renúncias e formas de vida. Mas sempre os consagrados deverão poder testemunhar: Só Deus preenche totalmente o coração humano nos seus anseios de plenitude, santidade, beleza, amor e infinito.

A segunda característica é a fraternidade cristã. Chamando a si, Deus une entre si os que a Ele se entregam. Assim aconteceu com os discípulos de Jesus e se repete ao longo da história da Igreja, especialmente com os múltiplos carismas que o Espírito Santo derrama. À volta de um homem ou mulher em quem a graça de Deus se manifesta de modo especial agregam-se outras pessoas e surgem novas comunidades de fiéis. O sinal divino atraiu e suscitou vínculos de fraternidade. É um aspecto que está muito presente nos religiosos, pois da sua forma de vida faz parte a vida comum. Assim, a vida consagrada mostra como a fé gera fraternidade e testemunha esta dimensão da Igreja. Todos os cristãos são chamados a experimentar, em maior ou menor intensidade e em várias modalidades a fraternidade na Igreja. Ela é na verdade uma comunidade de irmãos e irmãs unidos no amor de Cristo. É uma luz de humanização que deve brilhar no mundo.

A terceira característica são as boas obras. As pessoas consagradas a Deus colocam-se ao serviço dos outros. Realizam a palavra de Jesus aos discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu” (Mt 5.16). Que obras realizam? Elas estão presentes em muitas frentes: no ensino, na saúde, na actividade missionária, na assistência aos pobres e necessitados, na educação cristã, na comunicação social, no testemunho e promoção da vida espiritual, na oração e contemplação… Nestas várias obras e através delas, a Igreja revela cada vez mais Cristo aos fiéis, dando continuidade à sua vida e missão. Através dos discípulos que se consagram ao seu serviço, Cristo continua a subir ao monte para fazer oração, anuncia às multidões o reino de Deus, cura os doentes e feridos, traz os pecadores à conversão, abençoa as crianças e faz bem a todos, obediente em tudo à vontade do Pai que o enviou (cf LG 46).

Oxalá todos os baptizados, incluindo os consagrados, compreendam sempre melhor o seu vínculo de comunhão e a co-responsabilidade na participação activa na vida e missão da Igreja.

Padre Jorge Guarda/Canção Nova

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